Como designação da flor do craveiro (Dianthus caryophyllus), o vocábulo cravo terá começado a ser usado nos finais do século XVI, em resultado do alargamento do significado de cravo, que até essa época podia ocorrer nos atuais sentidos de prego e cravo-da-índia (ou cravinho). Observe-se, porém, que não está totalmente esclarecida a etimologia exata da palavra em apreço.
Com efeito, José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Lisboa, Livros Horizonte, 1987), regista cravo também como nome de uma flor cuja origem lhe parece controversa, «sem sintomas de se esclarecer brevemente», muito embora se interrogue sobre a hipótese de haver uma relação com cravo, «prego». Tom mais assertivo tem a nota etimológica que o Dicionário Houaiss dedica a cravo (desenvolveram-se todas as abreviaturas):
«ao mesmo vocábulo cravo prendem-se, além dos sentidos metafóricos pelo formato 'calo, espinha, acne sebácea', os sentidos de 'flor/planta', de 'semente aromática da Índia'; cravo 'flor/planta', por sua vez, parece ser posterior a cravo 'especiaria' (inequivocamente documentado em Camões (1572, Lus. II, 4), vindo a fixar-se em forma distintiva como cravo-da-índia, a partir de quando cravo 'flor' se torna popular; Corominas[1], s.v. clavo, refere clavel como de 1555 para a especiaria e de 1582 para a flor, invocando o catalão clavell (1460) 'flor', "llamada así por su olor análogo al del clavell 'clavo de especia', accepción que a su vez procede del catalán antiguo clavell (s. XIII) 'clavo de clavar', por comparación de forma"[2]; no português, tem-se que cravo como 'cravo de cravar', por analogia de forma, deu nome ao cravo[-da-índia], e este, por seu aroma, deu o nome ao cravo 'flor/planta' [...] formas históricas s. XIII cravo, s. XV clauo 'prego', 1570 cravo 'flor do cravo'.»
É, pois, plausível que cravo «prego» esteja na origem de cravo «flor do craveiro», ainda que, para a elaboração desta resposta, não se tenham encontrado outras fontes que corroborem claramente a hipótese do papel que cravo «cravo-da-índia» teve exatamente em todo este processo de evolução semântica.
Diga-se, por último, que a cravo, no sentido de «prego», é consensual a atribuição de étimo: do latim vulgar clavu-, «prego, cravo» (cf. Machado, op. cit.), que teve igual continuação noutras línguas românicas: italiano chiodo e chiovo; francês clou; provençal e catalão clau; castelhano clavo (Dicionário Houaiss).
[1] Joan Corominas e José A. Pascual. Diccionário Crítico Etimológico Castellano y Hispánico. 6 vol. Madrid, 1980-1991.
[2] Tradução livre: «chamada assim pelo seu cheiro análogo ao do cravo "cravo de especiaria", aceção que por sua vez procede do catalão antigo clavell (s. XIII) "cravo de pregar", por comparação da forma.» Como nome de instrumento, cravo parece ser adaptação do francês clavier, «teclado», ou clavecin (cf. Dicionário Houaiss).