Segundo o Guia do Uso do Português: confrontando regras e usos (Maria Helena de Moura Neves, ob. cit., São Paulo, Editora UNESP, 2003, p. 284), «a construção em que pese a, seguida de referência a pessoa, significa "por mais que desagrade a alguém"», sendo também «frequente a construção em que pese(m) o(s), que significa "apesar do peso de", "apesar de"» (idem), construção esta em que «o verbo concorda com o sujeito, que lhe vem sempre posposto». Como exemplos de tais construções, apresentadas como «bastante usuais», são-nos dadas as seguintes frases:
1. «Livre das pressões, em que pese a reclamação daquele torcedor mato-grossense, Jorginho voltou a ser o craque de sempre.»
2. «Em que pesem o desequilíbrio e as susceptibilidades entre os parceiros, nos últimos dez anos conseguiu-se reverter a natureza do relacionamento com a Argentina.»
Assim sendo, e se tivermos em conta o modelo destas duas frases, depreendemos que as expressões «em que pese a» e «em que pese(m) o(s)», embora signifiquem «apesar do peso de», «apesar de», implicam uma construção do tipo: «Em que pese a negação da autoria do facto delituoso, o réu foi condenado a uma pena severa.»
Para chegarmos a essa conclusão, para além de termos como referência os dois exemplos (1., 2.), constatámos que as construções «em que pese a» e «em que pese(m) o(s)» não se encontram abrangidas pela norma que prevê o uso do «infinitivo (flexionado ou não flexionado) com o conector apesar de na oração concessiva» (Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 719), nem com a da obrigatoriedade do «modo conjuntivo com os conectores concessivos embora, conquanto, ainda que, posto que, se bem que, apesar de que» (idem).