DÚVIDAS

A grafia de maoi[í]smo e maoi[í]sta

A minha dúvida prende-se com as palavras maoísmo e maoísta: Após ter lido uma resposta vossa relacionada com a minha questão, pude verificar que, de facto, justificam a acentuação destas palavras. Poderiam explicar-me a razão pela qual o i tónico não faz ditongo com a vogal anterior? Este fenómeno está relacionado com a etimologia da palavra? Já vi transcrições fonéticas e em que oi foi transcrito como ditongo.

Resposta

Em maoismo e maoista deve haver um hiato entre o ditongo decrescente ao e a vogal i, devido à forma como as palavra foram formadas: de Mao Tsé-Tung mais os sufixos -ismo, -ista (mao-ismo/ista). É assim que na índole da língua as palavras são pronunciadas. O que resta saber é como se deve representar esse hiato na grafia.

No Brasil, a representação é conseguida com o acento, legítimo, visto i ser tónica nas palavras: maoísmo, maoísta.

Em Portugal, há grande confusão neste assunto. Muitos dicionários grafam as palavras como no Brasil (a confusão pode ainda ser maior no Houaiss, pois está grafado: «maoísta (com acento) é adepto ou simpatizante do maoismo (sem acento, talvez uma gralha)».

As pessoas que elaboram os dicionários, como se tratava de uma palavra nova, imitaram o Brasil. Esqueceram, porém, que, embora quase idênticas, neste pormenor a nossa norma é diferente da do Brasil.

Acontece que a norma portuguesa em vigor, Base XV, reza: «Dispensa-se acento agudo nas vogais tónicas i e u de palavras paroxítonas, quando elas são precedidas de ditongo». E apresenta o termo tauismo. Ora o ditongo grafado ao é, neste caso, o ditongo com a representação ¦àu¦~[aw] segundo o AFI (ver Dicionário 2001 da Academia). Assim, maoismo, maoista deve, na norma portuguesa, escrever-se como tauismo (sem acento).

Poder-se-ia considerar incompreensível que responsáveis pela língua num nível tão elevado sejam assim imprecisos, mas aceitemos que as minudências das normas ortográficas passam muitas vezes despercebidas. A todos.

Sublinho que a dúvida sobre a possibilidade de se adoptar a grafia brasileira num vocabulário comum que exista no novo acordo não é desculpa neste caso. O novo acordo vai estabelecer também para o Brasil a ausência de acento em maoismo e maoista. Por exemplo, agora que no Brasil se escreve baiúca (Academia Brasileira de Letras), depois escrever-se-á baiuca como em Portugal.

Resumindo, à revelia do que está exarado nalguns dos dicionários considerados idóneos, recomendo que escreva maoismo, maoista (sem acento) em Portugal. Assim é segundo a norma portuguesa, assim será na nova norma.

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa