Em primeiro lugar, convém referir que as chamadas «onomatopeias autênticas (como glu-glu, tic-tac, etc.), não só são pouco numerosas como a sua escolha é de certo modo arbitrária, pois são a imitação aproximada e já meio convencional de certos ruídos (compare-se o português ão-ão, o francês ouaoua e o alemão wauwau)» (Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, 3.ª edição, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1977, p. 127; veja-se, também, Carlos Ceia, E-Dicionário de Termos Literários).
Em segundo lugar, e no que diz respeito mais concretamente à onomatopeia em análise, será importante sublinhar que a letra h «em português é consoante muda, pelo que não representa só por si qualquer som [...]. O h inicial, igualmente mudo e geralmente etimológico, era aspirado no latim até fins da República Romana, tal como sucede hoje também em várias línguas germânicas, por exemplo» (Fernando Venâncio, nesta resposta; Infopédia). Deste modo, a opção pelo h gráfico, neste caso em início de palavra, não produzirá, actualmente, qualquer tipo de efeito audível (incluindo-se, aqui, a referida libertação de ar mencionada pelo consulente). Além disso, tal como referem Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, «quase todos os sons da nossa fala são produzidos por expiração» (p. 25).
Assim, e tal como consta, por exemplo, do Dicionário Priberam, convencionou-se que «ah! ah! ah!» seria a expressão representativa, em português, da gargalhada. Será igualmente importante não descurarmos o facto de a interjeição Ah, no latim, já conter em si, entre outras, a ideia de «alegria, zombaria» (Dicionário Houaiss).
Quanto à construção frásica do comentário do prezado consulente, chamaria a atenção apenas para a utilização da conjunção (neste caso, coordenativa explicativa) pois. Segundo Cunha e Cintra (op. cit., pp. 642-645), emprega-se a vírgula «para separar as orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzidas pela conjunção e», assim como «para separar as orações subordinadas adverbiais». Ora, deste modo, e neste caso concreto, aconselharia, portanto, a colocação de pois entre vírgulas, já que, logo a seguir a esta conjunção, surge uma oração subordinada temporal, introduzida pelo conector enquanto: «o ah exclamativo não tem o mesmo som que os ha da gargalhada, pois, enquanto o primeiro não pressupõe, comummente, uma expiração de ar antecedente, o segundo pressupõe-na [...].»