DÚVIDAS

A função do se na frase «Um ruído se fez ouvir»

Gostaria de pedir a gentileza de vocês para me esclarecerem o porquê de este se, na frase abaixo, ser classificado como sujeito:

«Um ruído se fez ouvir.»

Resposta

A palavra se pode ter, em português, diferentes funções:

1. Pronome pessoal reflexo: «A noiva maquilhou-se sozinha.»

2. Pronome pessoal recíproco: «Os jogadores cumprimentaram-se no início do jogo.»

3. Pronome indefinido: «Não se pode fumar em espaços fechados.»

4. Conjunção subordinativa integrante: «Perguntaram-lhe se sabia falar espanhol.»

5. Conjunção subordinativa condicional: «Se for possível, entrega hoje o relatório.»

6. Partícula inerente: «O prisioneiro suicidou-se.»

7. Partícula apassivante: «Vendem-se apartamentos neste condomínio.»

Na frase que apresenta, o se parece comportar-se como uma partícula apassivante (também designado por se-passivo):

8. «Um ruído se fez  ouvir.» = «Um ruído se ouviu.»*

O se-passivo desempenha a função de agente da passiva, referindo uma entidade arbitrária, e, por isso, pode ser parafraseado por uma construção passiva:

9. «Um ruído foi ouvido (por alguém).»

Sendo identificado com o agente da passiva, não pode acumular outra função sintática, pelo que não pode ser classificado de sujeito. O elemento da frase que desempenha a função de sujeito é o grupo nominal «um ruído». Saliente-se que o sujeito de uma frase é o constituinte que desencadeia a concordância verbal, logo, se colocarmos o grupo nominal «um ruído» no plural, o verbo terá também de ser flexionado no plural:

10. «Vários ruídos se ouviram/se fizeram ouvir.»

Em suma, se desempenha a função sintática de agente da passiva.

* No português do Brasil, com o se em posição de próclise. No português europeu, com o se em posição de ênclise («Um ruído fez-se ouvir» = «Um ruído ouviu-se»).

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa