No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, autocarro, camioneta e carreira são substantivos usados em Portugal para designar meios de transporte colectivos definidos da seguinte maneira:
1. Autocarro: «veículo automóvel, com um ou dois pisos, destinado ao transporte cole(c)tivo de passageiros, especialmente nos meios urbanos.»
2. Camioneta de carreira ou carreira: «a que se destina ao transporte de passageiros, constituindo um meio de transporte colectivo interurbano.»
3. Camioneta (ou camionete): «veículo automóvel de quatro ou seis rodas, destinado ao transporte de passageiros ou de mercadorias.»
Vemos que autocarro contrasta com camioneta, na medida em que este é um meio de transporte interurbano, e aquele, um meio de transporte urbano. Quer isto dizer que dentro das cidades se usa autocarro, e que nas ligações entre elas, sejam as distâncias curtas ou grandes, camioneta. O termo carreira designa também os veículos que fazem a ligação entre localidades; é, portanto, um sinónimo de camioneta, com uma conotação por vezes mais popular («vou apanhar a carreira»).
Há, contudo, sinais de que a distinção entre autocarro e camioneta não é assim tão nítida. Note-se que no dicionário consultado se inclui, além de autocarro articulado («o que é constituído por dois corpos de um só piso, acoplados um ao outro através de uma articulação central e em que o segundo é rebocado pelo primeiro»), o termo autocarro de turismo: «veículo confortável usado em longos percursos, com fins turísticos.» Pergunta-se: se o percurso é longo, não deveria chamar-se camioneta de turismo? Sugiro a seguinte resposta: não, porque não costumamos associar turismo a camioneta, talvez porque o termo evoca o ambiente de subúrbio.
Parece-me então que autocarro de turismo já indica que actualmente o termo autocarro está a expandir-se à custa de camioneta e carreira, ou seja, há empregos de autocarro equivalentes ao uso de camioneta há vinte ou trinta anos. Por outro lado, sei que o uso de autocarro e camioneta pode também ter que ver com a área predominantemente servida por uma dada empresa de transportes. Por exemplo, a ligação a um subúrbio de Lisboa como Carnaxide pode fazer-se de autocarro, se o veículo for da Carris, que serve sobretudo a cidade de Lisboa, ou de camioneta, se estivermos a falar de uma empresa como a Vimeca, que abrange subúrbios da Grande Lisboa.
Em suma, estamos perante um caso em que a significação dos termos em causa pode estar sujeita a algumas variações para captar certos condicionalismos do sistema de transportes.