DÚVIDAS

«... vi-me doido para decifrar isto...»

À luz da nova terminologia, como classificar sintacticamente a frase: «... vi-me doido para decifrar isto...» (Miguel Torga)?

Resposta

A sequ[ü]ência em questão é equiparável a outras:

a) «Vi-me grego para...»

b) «Estou morto por...»

c) «Eu cheguei para ele...»

etc.

Cada sequ[ü]ência apresentada acima exemplifica uma unidade fraseológica (designada tradicionalmente por «locução» ou «locução verbal»). Trata-se de combinações que não são formalmente separadas, denominam globalmente um único conceito e, com muita probabilidade, são específicas de um idioma.

A título de experiência, façamos uma comparação. Se em «lavo-me» temos conjugação pronominal reflexa, em «vi-me doido» essa leitura é absurda: é absurdo dizer que a a(c)ção expressa pelo verbo recai sobre o sujeito que a pratica.

A unidade semântica destas expressões invalida a decomposição sintá(c)tica:

a)    «Vi-me doido/grego para...»  = «Foi muito difícil...»

b)    «Estou morto por...» = «Desejo imensamente ...»

c)    «Cheguei para ele...»  = «Argumentei eficazmente...»

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa