DÚVIDAS

Prófugo
No programa 'Jogo Falado' de 2/10/00, o treinador do Belenenses, Marinho Peres, utilizou a palavra 'prófugo' a propósito das suas aventuras com a tropa: tinha-se naturalizado espanhol e foi mobilizado para o exército; como já teria feito a tropa no Brasil, foi-se embora na dita condição de 'prófugo'. Achei a expressão curiosa e confirmei-a no 'Novo Michaëlis" português-inglês: prófugo adj. fugitive; deserter; vagrant, vagabond. Será, então, 'desertor' ou 'refractário'.
Sotaque carioca, de novo
Como não encontrei um espaço reservado para comentários dentro deste "site", estou utilizando esta caixa de perguntas para tentar fazer uma contribuição a uma pergunta de outubro que considero ter sido respondida de forma incompleta pelos consultores do Ciberdúvidas. Esta pergunta foi formulada por Márcia Regina (Argentina). Ela queria saber da origem do sotaque carioca e suas diferenças com o sotaque paulista. Como foi respondido, o sotaque paulista teve forte influência da imigração italiana naquele estado, especialmente na capital. O que eu estranhei foi a ausência da explicação para o sotaque carioca. Isto porque a maior característica de sonoridade deste sotaque, o chiado do "s" que assume o som de "x", vem exatamente da influência da grande colônia portuguesa que ali habita. Esta influência é muito mais intensa do que no interior do país, visto que, como capital do Brasil durante os tempos em que o país era colônia de Portugal, a cidade do Rio de Janeiro detinha a maior proporção de funcionários portugueses em terras brasileiras. Houve uma intensificação desta influência com o refúgio da família real portuguesa que, em 1808, trouxe mais de 15 mil cortesãos portugueses para o Rio. Ainda na primeira metade do século XX esta cidade recebeu uma grande leva de imigrantes portugueses que hoje dominam o ramo de padarias neste lugar. É muito comum encontrar portugueses também na atividade de carros de aluguel ou de praça (os "táxis"). Em suma, enquanto o "paulistês" é fortemente influenciado pela entonação do italiano, o "carioquês", por sua vez, tem sua sonoridade ligada ao sotaque português europeu mais antigo. Uma forte característica do sotaque português europeu atual, que ressalta aos ouvidos dos brasileiros, é a freqüente atenuação ou quase supressão da vogal que precede a sílaba tônica (ou tónica). Esta foi uma diferenciação posterior à vinda da família real portuguesa para o Brasil, e por isso não está registrada no jeito de falar do carioca.
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