DÚVIDAS

O vocábulo "crencial"
Ainda sobre o vocábulo “creencial”: Ele surge, com efeito, em alguns escritos portugueses (vide infra), suponho que por contaminação do espanhol. Com efeito, é termo corrente em trabalhos de História da Religião e Antropologia em livros publicados naquele país. A questão que se põe é se é “legítimo” empregar-se em português, e, se não, qual o vocábulo a utilizar: "crencial" (relativo à crença)? Grato pela atenção. ________ “(…) Pinheiro Morão e Duarte Madeira Arraes debateram-se com dificuldades sobreponíveis na luta contra as doenças infecciosas. Fizeram-no repletos de uma experiência temporal e intemporal, porque sempre que um homem não domina na íntegra as situações que enfrenta, recorre ao que Laín Entralgo definiu como fundo creencial da humanidade. E, de tal forma compreenderam as limitações impostas, os riscos e as necessidades imediatos, que se viram impelidos a divulgar a verdade da sua prática clínica. Fazem-no em português e como disse Madeira Arraes numa doutrina clara e distinta, evitando o mais possível toda a prolixidade. (…)” (ênfase minha) In: Medicina na Beira Interior. Cadernos de Cultura, n.º 3, Junho de 1991, p. 16. (Consultável também on-line.)_________ Español-Inglés – creencial adj. ideological, of ideology, of a body of beliefs or principles Inglés. _________ Autor: Sauri, Jorge Joaquín. Título: Apostillas a una historia de las ideas psiquiátricas. Primera apostilla la urdimbre creencial, categoría antropológica/You add notes to a history of the psychiatric ideas. First it adds notes to the warp creencial, category antropológica Fonte: Rev. neuropsiquiatr;66(4):271-279, dic. 2003. Idioma: Es. Resumo: El autor muestra la incidencia en el desarrollo de las ideas psiquiátricas, de la urdimbre creencial, esto es de la disposición básica que las sustenta. Se trata de la categoría antropológica con la cual la persona cuenta y descuenta con los fundamentos necesarios para tejer su modo de existir, entender y actuar. Todo comportamiento, incluso el intelectual, depende del sistema en la urdimbre creencial en la cual se nutre y apoya condicionando, según el tiempo, el modo de preguntar y de responder. En este vaivén se teje el saber psiquiátrico. (AU)
Ainda o termo glamoroso
Na (correcta) resposta de Edite Prada a uma pergunta sobre o termo acima indicado, diz-se: «Não me parece que se trate de um vocábulo de que a língua precise. Poderá o consulente, se quiser, recorrer a termos como: encantadora, fascinante, esplendorosa, maravilhosa, radiosa, sedutora, deslumbrante, arrebatadora, etc., etc.», acrescentando-se mais adiante que o curso normal da língua decidirá da ulterior aceitação ou não da palavra. Ora a verdade é que todos os possíveis "sinónimos" citados têm uma característica que não existe em «glamoroso», que é a de representarem uma qualidade, algo de positivo e de verdadeiro; só o «glamoroso» corresponde, porém, à mesma aparência, mas num registo falso. Assim, acho que «glamoroso» faz mesmo falta na língua e ficará a ocupar esse lugar que estava vago.
Implícito, subentendido e pressuposto
Gostaria de saber qual a relação das palavras implícito, subentendido, pressuposto. Qual o significado de implícito? Significa as duas últimas palavras citadas? Há diferença em subentendido e pressuposto? Entendo que sim, pois subentendido está implícito no texto, está presente no texto original; já pressuposto requer interpretação dos fatos presentes no texto. Se há diferença mesmo, como fica a palavra implícito?
Ainda espaciotemporal
Qual é a forma correcta: “espaciotemporal”, ou “espácio-temporal”? Na vossa resposta, com data de 09/06/1998, a uma pergunta semelhante, é afirmado que a forma correcta é “espaciotemporal”. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa regista precisamente essa forma; de igual modo o faz a última versão do Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora. No entanto, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, regista a forma “espácio-temporal”, e o dicionário da Priberam, também. Numa outra resposta, com data de 29/04/1998, sobre o uso do hífen em palavras com o antepositivo sócio-, é dito o seguinte: b) O Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, na página 216, menciona um dos casos em que se deve usar o hífen: «Nos compostos em que entram, morfologicamente individualizados e formando uma aderência de sentidos, um ou mais elementos de natureza adjectiva terminados em o e uma forma adjectiva.» Entre os vários exemplos, cita os seguintes: físico-químico, póstero-palatal, trágico-marítimo, ântero-inferior; latino-cristão, grego-latino, afro-negro. Ora, nos poucos dicionários em que a palavra “espácio” aparece registada, ela é classificada como adjectivo. Assim, retomo a questão: qual é a forma correcta – “espaciotemporal”, ou “espácio-temporal”?
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa