Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase: «[...] liberais, não se identificavam como tal», ou seria «[...] liberais, não se identificavam como tais»?

Resposta:

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa, «como tal» é uma locução adverbial1 que significa «assim sendo, por esse motivo» (Infopédia) ou «nesta ou nessa qualidade, a este título» (Dicionário Houaiss).

Ora, apesar de na Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (pág. 1582) se afirmar que «as locuções adverbiais apresentam possibilidades muito reduzidas ou mesmo nulas de modificação interna dos elementos que as constituem [...]», neste caso, além de «como tal», com tal no singular, a subentender «ser liberal»», é possível a pluralização. Sendo assim, tal concorda com o termo que retoma, neste caso, liberais, que se encontra no plural:  «[...] liberais não se identificavam como tais.»

1«As locuções adverbiais são expressões com a mesma função dos advérbios, formando-se por duas ou mais palavras cuja associação adquiriu um grau de fixidez sintática e semântica, frequentemente com uma interpretação idiomática, i. e., não relacionada com a interpretação isolada dos seus elementos constituintes.» (Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1581)

Pergunta:

É legítimo o uso de revelhão, como vou ouvindo por aí, no que se refere à festa da passagem de ano?

Obrigado!

Resposta:

Revelhão é o aportuguesamento do substantivo francês réveillon  «ceia da noite de Ano Novo, conjunto de festejos que costuma acompanhar a ceia e a passagem de ano, véspera de Ano Novo» (Dicionário Houaiss). Contudo, o verbete não se encontra ainda atestado nos dicionários portugueses. 

À sua semelhança, podemos encontrar nos dicionários portugueses galicismos cuja adaptação, em português, é igual à de revelhão, substituindo a terminação -on do francês por -ão, nomeadamente: bidão (bidon), biberão (biberon), camião (camion), cupão (cupon) entre outras. Por esta razão, não parece incorreto que se aportuguese réveillon para revelhão.

Assinale-se que não existe uma palavra única para traduzir este substantivo francês. Por exemplo, o dicionário francês-português da Porto Editora (na Infopédia) atesta a tradução «passagem de ano».

Pergunta:

Ouvi na rádio a locutora a proferir a palavra inundamento. Gostaria de saber se este termo é correto, pois apenas conheço inundação.

Muito obrigada.

Resposta:

Dicionários como o Houaiss e o Michaelis atestam o substantivo masculino inundamento

Sinónimo de inundação, inundamento tem um uso menos frequente, de acordo com o Dicionário Houaiss. Este substantivo é formado a partir do verbo inundar, ao qual se agrega o sufixo -mento.

Note-se que este sufixo forma substantivos a partir de verbos que têm, entre vários sentidos, o mesmo sentido que o sufixo -ção: «ação ou resultado dela» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 99). 

Pergunta:

Afinal, é correta a expressão «a quantas anda»?

Resposta:

Os dicionários Houaiss e Aulete atestam a locução «a quantas anda/andam» com o significado de «em que estado ou situação se encontra (algo); em que pé está», pelo que é considerada correta. No Corpus da Língua Portuguesa encontramos exemplos onde a expressão ocorre, nomeadamente em Paulo, de Bruno Seabra: «[...] tão distraído tenho estado, que nem sei a quantas anda a peça.»

Apesar de legítima, é de notar que o uso de «a quantas anda» se limita ao campo informal. 

Pergunta:

Antes de colocar a minha dúvida, gostaria de elogiar toda a equipa do Ciberdúvidas pelo excelente trabalho!

Gostaria que me elucidassem quanto à regência da preposição "de" uma vez que me disseram que não é correto empregá-la nos seguintes casos: Toyota Portugal (e não Toyota de Portugal) Mercedes-Benz Portugal (e não Mercedes-Benz de Portugal). Porém, escreve-se Embaixada de França e não Embaixada França. Também li Igreja Católica Ortodoxa de Portugal (e não Igreja Católica Ortodoxa Portugal). Se vos fosse possível indicar-me qual a forma correta, ficaria muito grata.

Resposta:

Em casos como Mercedes-Benz Portugal e Toyota Caetano Portugal – ou mesmo l'Oréal PortugalAmazon Espanha ou Continental Portugal , como refere a consulente, dá-se a elipse da preposição de ou em que indicam o local onde se encontra a sucursal destas empresas.

A verdade é que estas empresas se encontram registadas assim, sem a preposição (ver registo de empresas no endereço ePortugal). Ainda assim, afirmarmos algo como «fui à Mercedes-Benz de Portugal comprar este carro» ou «mandei vir este carregador da Amazon de Espanha» é perfeitamente aceitável e correto. Em vez de se fazer referência ao nome oficial da empresa, usa-se o nome genérico e o local onde ela se encontra, para conseguirmos ser mais precisos. 

Já quando nos referimos a embaixadas e igrejas, intituições que não têm o seu nome comercialmente registado  não se trata de empresas ...