Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Frase: «Foi vítima de uma mordida/mordedura de cão»

Qual é a palavra correta?

Resposta:

Mordidamordedura, substantivos femininos, são sinónimos, pelo que é opcional o uso de um ou de outro. 

Um outra opção pode ser mordedela/mordidela ou mesmo dentada

Pergunta:

Lendo alguns artigos e blogues de viagens, deparei com o topónimo Dubai acompanhado de artigo definido «o Dubai».

Quando é referida apenas a cidade, e não o emirado, deveremos escrever Dubai acompanhado do artigo definido o?

Obrigado!

Resposta:

Em português europeu, Dubai faz-se acompanhar de artigo. Em português do Brasil, Dubai não é geralmente antecedido de artigo1.

O uso de artigo definido com nomes de localidades portuguesas ou de países de língua oficial portuguesa pode, por si, ser irregular, apesar de se tentar encontrar justificação para a colocação ou omissão do artigo com estes topónimos. Quando se trata, então, do uso do artigo com nomes de países ou cidades estrangeiras, além de irregular, não há justificações tão claras2. Note-se que Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp. 225), afirmam que: «Sendo por definição individualizante, o nome próprio deveria dispensar o artigo. Mas, no curso da história da língua, razões diversas concorreram para que esta norma lógica nem sempre fosse observada e, hoje, há mesmo grande número de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acompanhamento do artigo definido.»

1 Na secção histórica do Corpus do Português, apesar das escassas ocorrências (28) de Dubai, nota-se que nos textos portugueses o topónimo tem associado o artigo definido, enquanto nos textos brasileiros ocorre sem ele. Contudo, no boletim A Folha, Boletim de Informação dos Tradutores Portugueses das Instituições Europeias, n.º 15 – Primav...

Pergunta:

Por gentileza, qual é a regência correta para o vocábulo imprescindível no caso:

«É imprescindível QUE tenha lido o texto» ou «É imprescindível tenha lido o texto»?

Obrigada.

Resposta:

Primeiro, importa referir que não estamos perante um caso de regência.

Trata-se, sim, de uma oração introduzida pelo pronome que que corresponde ao sujeito oracional. Note-se que esta frase não se encontra na ordem canónica, i.e., a estrutura sintática introduzida por que corresponde ao sujeito da frase que se encontra depois do predicado. Por forma a que a análise seja mais compreensível, altere-se um pouco a ordem da frase:

1. «Que tenhas lido o texto é imprescindível».

É ainda possível substituir esta oração por isso:

2. «Isso é imprescindível».

Quanto à supressão da conjunção que, não é esta possível na frase em questão. Com efeito, a supressão da conjunção integrante que só se verifica quando a oração subordinada substantiva completiva funciona como objeto direto de um verbo1:

3. «Pede a Deus nunca te faça a ti sofrer o que eu sofri...» (Aluísio Azevedo, Memórias de um Condenado, 1882, in Corpus do Português).

O uso que figura em 3 é formal e literário (ver Textos Relacionados), correspondendo hoje geralmente à construção convencional, com a inclusão de que: «pede a Deus que nunca te faça sofrer a ti o que eu sofri....»

 

1 Sobre a supressão do que integrante, observa-se na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013...

Pergunta:

A minha gratidão enorme a toda a equipa do Ciberdúvidas pelo excelente serviço.

A minha questão tem a ver com uma das variedades de castanha portuguesa: a "martainha" ou "martaínha". Deve acentuar-se graficamente ou não?

Muito obrigada.

Resposta:

Martainha, «variedade de castanha de calibre grande, cor clara e formato arredondado» (Infopédia), é uma palavra paroxítona, i.e., a sílaba tónica é a penúltima, ou seja, i.

Observe-se que a sequência -ai- não se lê como um ditongo, mas, sim, como um hiato, pelo que as vogais devem ser pronunciadas separadamente: "marta-inha". Casos como estes, que são de palavras graves cuja sílaba tónica contém uma vogal em hiato, escrevem-se geralmente com acento gráfico (acento gráfico), para assinalar a vogal tónica e a separação das vogais: bilbaíno (gentílico de Bilbau) paraísoParaíba, países, raízes. Contudo, não se coloca acento gráfico quando a vogal tónica é seguida de -nh ou -m, -n, -r + consoante: rainha,  Coimbra, aindainfluirmos.

Agradecemos as palavras que nos são dirigidas.

As expressões «pena de morte» <br> e «pena capital»
10 de outubro, Dia Mundial Contra a Pena de Morte

Em Dia Mundial Contra a Pena de Morte, 10 de outubro, a consultora Sara Mourato reflete sobre a origem da expressão pena de morte e a sua sinónima: pena capital.