Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Ao que julgo saber:

adoptante – (adj. ou subst.) = que ou a pessoa que adopta

adoptivo – (adj.) = que foi adoptado, escolhido

Ouvi recentemente nos noticiários da TV «...mãe adoptiva». Como é?

(Escrevo segundo a antiga ortografia)

Obrigada.

Resposta:

De acordo com a reforma ortográfica de 1990, base IV, o p mudo nos substantivos adoptante e adoptivo deixou de se grafar, passando, assim, a adotivo e adotante

O adjetivio adotivo é «relativo à adoção, que adotou, que foi adotado, escolhido». Daí o uso de «mãe adotiva» (a mãe que adotou). Adotante é um adjetivo e também  com o mesmo sentido: «que ou a pessoa que adota». Portanto, é  igualmente acertado empregá-lo  no exemplo em causa: «a mãe adotante». 

Pergunta:

«A conselho do padre, Manuel foi para casa.»

Nesta afirmação é correto empregar-se «a conselho»? Ou ficaria mais correto: «O conselho do padre…»

Grato pela atenção.

Resposta:

«A conselho de» é uma locução prepositiva que está totalmente correta. A mesma tem significado de «de acordo com a opinião ou aviso de...» (Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, 2001). Igualmente com o mesmo significado temos a locução prepositiva «por conselho de».

Pergunta:

Tenho uma questão relativa a desencadeadores de próclise.

Sei que o advérbio não é um desencadeador de próclise em relação ao pronome clítico e ao verbo que o sucedem, como em «Não vos prefiro!» Poderá, no entanto, ser desencadeador de próclise se suceder ao verbo e ao pronome clítico, ou nunca será agente de próclise nesse caso? Nesse caso, poderemos, então, ter as seguintes frases: «Prefiro-vos não!», ou «Prefiro-vos, não!» Sendo estas frases regras de como a próclise não é consequência de causa proclítica se o agente desencadeador de próclise for sequência e não antecedente do verbo da oração.

Ajudai-me em tal dúvida, por favor. [...]

Resposta:

Apesar da oração apresentada – «prefiro-vos não!» / «prefiro-vos, não!» – não se enquadrar na sintaxe normativa, o atrator da próclise, neste caso o advérbio não, se se encontrar depois do verbo, deixa de atrair o pronome para uma posição anterior ao mesmo. Esta é a regra.

Não obstante, ouve-se em português do Brasil expressões como «Sei não!». É o que observa Paul Teyssier, no seu Manual de Língua Portuguesa (Coimbra, Coimbra Editora, 1990, pág. 336):

«[...] Na linguagem popular repete-se muitas vezes a negação depois do verbo, p. ex.:

Ele veio? Não veio, não. [...] / Não sei, não. [...]

E, finalmente, suprime-se o primeiro não e fica (somente no Brasil):

Veio não. [...] / Sei não. [...]»

Note-se que esta construção não segue as normas, e, por isso, não está correta, mas, num contexto informal, pode acontecer ser utilizada.

Pergunta:

Há diferença de significado entre as preposições ante e perante? Quando se deve usar uma ou outra? Ainda, há diferença de significado entre elas e a locução prepositiva «diante de»?

De antemão, agradeço a resposta.

Resposta:

As preposições ante e perante são sinónimas quando, no discurso, têm sentido de «diante de, na presença de, em consequência de» (Dicionário Houaiss); ex.: «ficou estarrecido ante/perante aquela cena». Neste sentido, e como se pode perceber, podemos também usar a locução prepositiva diante de com o mesmo sentido; ex.: «ficou estarrecido diante daquela cena».

<i>Zigzag</i> – rádio portuguesa ou rádio francesa?

Apontamento de Sara Mourato sobre a forma incorreta "zigzag", que teima em aparecer na escrita mediática, desta vez, como nome de uma nova estação de rádio em Portugal.