Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

 «... vestia de branco...»

Branco, nesta expressão, como se classifica morfologicamente?

Resposta:

Branco, na oração que sugere, classifica-se como um nome comum equivalente à expressão nominal cor branca.

Veja-se um exemplo mais completo: «A mulher vestia de branco a filha». Percebemos, aqui, que existe uma mulher que veste uma filha com roupa de cor branca.

Pergunta:

Posso, ao questionar, utilizar quem na seguinte frase abaixo, quando refiro ao grande império Romano?

«Quem foi Roma?»

Me soa melhor «o que foi Roma?», porém quando penso em termos de quem realizava , fico na dúvida.

Obrigada.

Resposta:

O pronome interrogativo quem refere-se a pessoas e, por isso, não parece plausível utilizá-lo em referência a um aglomerado urbano, como será o Império Romano.

No entanto, podemos justificar o uso de quem na questão «quem foi Roma?» se, por Roma, entendermos toda a população que constitui a cidade ou o império – «quem foi a população de Roma?». Estamos perante um jogo de palavras que configura uma construção frásica forçada, que, não obstante, pode ocorrer em contexto literário, por uma questão de estilo, como personificação.

Pergunta:

O verbo coagir deve usar-se com o auxiliar ser ou estar?

«Estar coagido a...», ou «ser coagido a...»?

Resposta:

O verbo coagir, registado com o significado de «obrigar por coação; constranger a praticar ou a não praticar um ato» (Dicionário da Porto Editoraem linha), não obriga ao uso de auxiliares como os verbos ser ou estar. Veja-se os exemplos, pelos quais se verifica que o verbo se usa na voz ativa:

(i) Um dos filhos deles é acusado de coagir testemunhas;

(ii) O homem coagiu uma mulher um dia após ela ter prestado declarações. 

Por outro lado, a oração pode estar na voz passiva, e, se assim for, o particípio passado, no caso o verbo coagir, é introduzido pelo verbo ser ou estar, como sugerem os seguintes casos: «A testemunha foi coagida pelo suspeito»; «Pela lei, a testemunha está coagida a depor».

Pergunta:

Qual a diferença entre os verbetes preço e preçário? Através de uma pesquisa vi que alguns sites usam preço e outros preçário, mas não consegui entender em que situação se usa um ou outro.

Resposta:

A despeito desse uso indistinto, ambos os substantivos se distinguem um do outro. Preço  tem o sentido de «valor, em dinheiro, de um objeto, de um bem ou de um serviço; custo» (Dicionário da Porto Editora, em linha): Preçário significa a «relação de preços; regulamento de preços aprovado oficialmente» (idem). Assim, quando usamos o substantivo preço estamos a falar do valor de determinado objeto, isolado, ou o conjunto de vários objetos, por exemplo. Por outro lado, quando nos referimos a preçário estamos a falar de uma tabela, lista, etc. onde consta o valor de todos os objetos isoladamente. Esta tabela é reconhecida como tendo os preços autorizados a praticar. 

Pergunta:

«Os países nórdicos voltam a estar no topo das classificações, de acordo com a ONU. Felicidade está relacionada com apoios sociais e governação por parte dos Estados.»

Gostaria de saber porque é omitido o artigo antes de «felicidade» e em que casos é possível fazer o mesmo.

Muito obrigada.

Resposta:

É comum, em língua portuguesa, antepormos, a um nome comum, um artigo, seja ele definido ou indefinido. Acontece que, em títulos de publicações ou notícias, como parece ser o exemplo dado – «Os países nórdicos voltam a estar no topo das classificações, de acordo com a ONU. Felicidade está relacionada com apoios sociais e governação por parte dos Estados» –, se omitam estes artigos. Isto dá-se por uma questão de sistematização e de poupança nos caracteres, e por se querer destacar e levar o leitor a focar-se em palavras-chave. Assim, seria também de esperar termos «Países nórdicos voltam a estar no topo das classificações, de acordo com a ONU. Felicidade está relacionada com apoios sociais e governação por parte dos Estados". Ao lermos o título sem os artigos antes de «Países nórdicos» e «Felicidade», focamo-nos nestas palavras que parecem ter outro poder na primeira interpretação da notícia.