Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
79K

É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Respondam-me, por favor: sendo o verbo concernir transitivo indireto, é possível a construção «no que lhe concerne, tudo está bem»? Acontece que o uso do pronome lhe parece-me estranho nesse caso. Certa feita li em algum lugar que os verbos visar e aspirar, quando transitivos indiretos, não aceitam tal construção. E quanto a concernir?

Resposta:

O verbo concernir é compatível com o pronome lhe:

«Esse assunto não concerne aos filhos.»

«Esse assunto não lhes concerne.»

Pergunta:

Encontrei no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa [VOLP da Academia Brasileira de Letras] duas grafias diferentes para o verbo bem-fazer (ou benfazer). Qual seria o correto?

Resposta:

O VOLP da Academia Brasileira de Letras acolhe efectivamente as duas formas. Sendo assim, pelo menos, no Brasil, deve considerar-se que ambas estão correctas. No entanto, o Dicionário Houaiss, na sua edição brasileira de 2001, indica que bem-fazer é forma preferível a benfazer.1 Assinale-se que os vocabulários ortográficos destinados ao público português acolhem apenas a forma bem-fazer (VOLP da Porto Editora e Vocabulário Ortográfico do Português, do ILTEC). O mesmo se verifica em dois dicionários consultados, um português, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, e outro brasileiro, o Aulete Digital. Em sintese, apesar de bem-fazer e benfazer serem formas correctas, recomenda-se a primeira, por se tratar da registada com mais frequência em vocabulários ortográficos e dicionários gerais.

1 A edição de 2009 do Dicionário Houaiss, actualizado de acordo com o VOLP da Academia Brasileira de Letras (ABL), regista apenas benfazer. A exclusão de bem-fazer deve ter que ver com as condições que rodeiam a publicação da respectiva entrada no referido VOLP; com efeito, benfazer era inicialmente a única forma que ocorria na versão original do VOLP publicado em 2009, tendo sido mais tarde necessário elaborar em separado um encarte com correcções e aditamentos (

Pergunta:

Aproveito a polémica gerada em torno das novas regras do AO relativas a dois aspetos:

1) Se supermãe passa a ser grafado sem hífen, que sucede a "super-mulher"? Junta-se os dois termos, prefixo e nome? Qual a razão?

2) Relativamente ao acento diferencial, para do verbo parar, de facto, eliminou o acento que o distinguia da preposição para. Neste caso, porque é que "está" do verbo estar não o perde como diferenciador do determinante demonstrativo esta? Qual a razão?

Muito obrigada pela vossa atenção.

Resposta:

1) O composto supermulher, à semelhança de supermãe e de supermercado, sempre foi aglutinado, o novo AO não vem trazer nenhuma alteração nestes casos.

O radical super- associa-se ao elemento seguinte por hífen apenas se este começar por h: super-homem; super-herói, ou por r: super-rápido; super-relaxante; super-rugoso, etc.

2) A forma verbal está mantém o acento gráfico porque é uma palavra aguda, ou seja, com acento tónico na última sílaba.

Suprimiram-se os acentos gráficos apenas nas palavras homógrafas graves, ou seja, com acento tónico na penúltima sílaba: pêlo/pélo/pelo; pára/para, etc.

Pergunta:

Como se deve pronunciar a palavra ciclope?

Resposta:

Com ó aberto, "ciclòpe", de acordo com as transcrições fonéticas disponíveis no dicionário da Academia Brasileira de Letras e no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora: [siˈklɔpɨ].

Pergunta:

Gostava de saber qual o significado da expressão «é de longe»:

a) «Esta solução é, de longe, a melhor de todas.»

b) «Este fenómeno é, de longe, o maior causador de poluição sonora.»

E a expressão «nem de longe, nem de perto»?

Gostava igualmente de saber o valor do verbo ser na seguinte frase:

a) «Não quero o meu chapéu, quero é a Virgínia!»

Porquê «quero é»?

Muito obrigado!

Resposta:

1. Segundo o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa:

a) «de longe»: «loc. adv. [...] usa-se precedida pelo verbo ser, em frases comparativas, com o sentido de superioridade absoluta; mais do que qualquer outra coisa ou pessoa. É de longe o meu melhor amigo. Este foi o vinho que, de longe, se vendeu melhor este ano

b) «nem de perto nem de longe» ou «nem de longe nem de perto»: «loc. adv. Fam., de forma nenhuma ou de maneira nenhuma; usa-se em frases negativas para enfatizar que não é assim, que não é o caso. NEM POUCO MAIS OU MENOS.»

2. O uso de é em «quero é a Virgínia!» tem valor enfático, sendo equivalente à construção de foco «o que... é...» («o que quero é a Virgínia»).