Rúben Correia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rúben Correia
Rúben Correia
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Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa - Português Língua Estrangeira/Língua Segunda na referida. Prepara atualmente um doutoramento na mesma área.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A palavra "meia diária" tem hífen?

Resposta:

Dado tratar-se de um termo composto, de ordem jurídica e em uso na variante brasileira da língua portuguesa*, em que os dois elementos formam uma nova unidade de sentido, deve grafar-se meia-diária com hífen.

* Segundo o Dicionário Houaiss, a diária, neste contexto, corresponde a: «1 – remuneração devida ao servidor civil ou ao empregado por serviço extraordinário fora do local de trabalho e que, salvo exceção legal, não integra o vencimento ou salário; 2 – ajuda de custo dada a funcionários itinerantes, públicos ou particulares, a fim de cobrir despesas de transporte, estada, alimentação, etc.»

Pergunta:

Como já não passo sem o Ciberdúvidas, aqui vai mais uma pergunta: qual a forma mais correta em português? Cartoonista (à inglesa), cartonista (à francesa), ou cartunista (à brasileira)? É que eu encontro todas estas formas nos jornais, e o dicionário de língua portuguesa também as contempla a todas! Obrigado.

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, regista a forma cartunista (cartune + sufixo -ista, «1 – artista que faz desenhos humorísticos que caricaturam ou criticam pessoas ou situações; pessoa que faz cartunes: 2 – artista que faz desenhos destinados a uma história de banda desenhada ou a um filme de desenhos animados»), derivada de cartune (do inglês cartoon). A par de cartune, temos ainda cartum, forma usada na variante brasileira do português. Note-se que, ainda de acordo com o dicionário da Academia das Ciências, cartonista é o ofício da «pessoa especializada na elaboração de modelos em cartão para a confeção de tapetes, mosaicos, tapeçarias…». Segundo o Online Etymology Dictionary, o termo cartoon deriva do francês carton, originariamente usado para designar um trabalho preliminar em cartão e que, posteriormente, cerca de 1843 e por extensão de significado, passou a designar um tipo de trabalho humorístico destinado a ser publicado em revistas e jornais.

Registe-se ainda que o VOP atesta a forma cartoonista, derivada do inglês cartoonist. Tal forma, de acordo com uma perspetiva mais conservadora da morfologia da língua portuguesa, apesar de atestada, pode levantar alguns problemas por tratar-se de uma construção assente numa base de origem estrangeira que não tem a categoria de nome próprio.

Pergunta:

Por favor, queiram dizer-me se o advérbio doravante deve ou não ser classificado advérbio de tempo. Muito obrigado.

Resposta:

Pode considerar-se o advérbio doravante como um advérbio que denota uma circunstância de tempo. J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira (Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto Editora, 1976, p. 299) classificam de igual modo doravante como um advérbio de tempo.

Por outra parte, tal como indica Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 37.ª edição, p. 290), os advérbios constituem uma classe de palavras muito heterogénea, afigurando-se, por isso, difícil atribuir-lhes uma classificação uniforme e coerente. Continua o autor afirmando que: «na classificação do advérbio, ora se pauta pelos valores léxicos (semânticos) das unidades que o constituem, ora por critérios funcionais». Desta forma, ainda que na maioria das fontes consultadas não se verifique grosso modo a inclusão do advérbio doravante na classe tipológica dos advérbios de tempo, o mesmo poderá – devido ao seu valor semântico – ser incluído nesta. A par deste advérbio, existe de igual modo a locução adverbial «de ora avante». Em ambos os casos (advérbio e locução) encontramos o advérbio ora, o qual, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, deriva da expressão latina ad horam, com o sentido de «para a hora». Este advérbio é usado, de igual modo, em outras locuções adverbiais, tais como «de ora em diante» e «por ora».

Pergunta:

Como se faz a divisão silábica da palavra igual? E qual é a sílaba tónica?

Resposta:

A palavra igual é composta pelas sílabas i-gual. A sílaba tónica desta palavra é a sílaba gual, na qual se verifica um ditongo crescente.

Pergunta:

A palavra Paim (nome próprio) tem acento tónico no i? O nome do cantor Eduardo Paím é sempre escrito com í, pois deve ter sido registado assim. O que prevalece?

Resposta:

Geralmente, o i e o u da última sílaba das palavras agudas ou oxítonas (acentuadas na última sílaba) não se acentuam1. Nestas se incluem nomes próprios ou apelidos de família terminados em -im, tais como Amorim, Benjamim, Caim, Crispim, Jasmim, Paim, Serafim ou Valentim. Porém, tanto o Acordo Ortográfico de 1945 (base L) como o Acordo Ortográfico de 1990 (base XXI) contemplam a manutenção da grafia da assinatura do nome, por costume ou por registo legal, como poderá ser o caso de «Eduardo Paím». O mesmo se aceita quanto à grafia de nomes de firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos. 

1 A não ser que i e u sejam precedidos por uma vogal com a qual não formam ditongo, seguidos ou não de -s: vs. aqui; baú vs. mau; atraís (2.ª pessoa do plural do presente do indicativo atrair) vs. atrais (2.ª pessoa do singular plural do presente do indicativo atrair); Emaús (nome próprio) vs. maus. Havendo hiato, depois de a ou o, quando i ou u