Rúben Correia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rúben Correia
Rúben Correia
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Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa - Português Língua Estrangeira/Língua Segunda na referida. Prepara atualmente um doutoramento na mesma área.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o processo de formação da palavra aparecimento?

Resposta:

O substantivo aparecimento é uma palavra derivada por sufixação. Tem como base de derivação a forma apareci-, que é o tema do passado do verbo aparecer (cf. Alina Villalva, "Formação de palavras: afixação", in M. H. M. Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, 2003, p. 948-949). Acerca deste sufixo, -mento, escrevem Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (3.ª edição, p. 99), que forma substantivos a partir de verbos com o sentido genérico de:

a) ação ou resultado dela: acolhimento, ferimento;

b) instrumento da ação: ornamento, instrumento;

c) noção coletiva: armamento, fardamento.

O significado de aparecimento permite incluí-lo entre os casos apontados na alínea a).

Pergunta:

Como se diz: «na Nazaré», ou «em Nazaré»?

Resposta:

Deve dizer-se «na Nazaré» quando se refere à cidade localizada em Portugal, na Região Centro, conhecida pela célebre lenda de D. Fuas. O uso do artigo é consagrado pela norma padrão do português europeu, ainda que não se enquadre na regra geral que estipula que apenas topónimos de cidades, ou ilhas, derivados de nomes concretos (como é o caso de «o Porto» ou «a Guarda», entre outros) são antecedidos de artigo. 

No caso da cidade que hoje pertence a Israel, na região da Galileia, com o mesmo nome, o uso estipula a omissão do artigo (cf. «Jesus de Nazaré»).

Pergunta:

Qual é o correto: «atingir o objetivo», ou «atingir ao objetivo»?

Resposta:

A forma correta é: «atingir o objetivo». O grupo nominal «o objetivo» desempenha a função sintática de complemento direto do verbo atingir, podendo, neste caso, ser substituído por um pronome: «atingi-lo». Outro teste à nossa disposição para confirmar esta hipótese é a formulação do seguinte par de pergunta-resposta: «Atingir o quê? Os objetivos.» Este teste comprova a natureza nominal do complemento do verbo. Registe-se, contudo, que o Dicionário Houaiss apresenta exemplos em que o verbo atingir é utilizado como um verbo transitivo indireto, com os seguintes abonamentos: «atingir ao significado das palavras», «a inadimplência atinge a percentuais inéditos» e «a temperatura atingiu a graus elevadíssimos».

Pergunta:

Qual a forma correta: «refrear os ânimos», ou «resfriar os ânimos»?

Obrigada.

Resposta:

Parece-nos que ambos os verbos se podem combinar com o grupo nominal «os ânimos», à semelhança de outros verbos, tais como serenar, apaziguar, acalmar ou, no polo oposto, aquecer, exacerbar, exaltar… No corpus disponibilizado pela Linguateca encontramos a ocorrência tanto de «refrear os ânimos» como de «resfriar os ânimos». Transcrevem-se os seguintes exemplos daí retirados:

«A não obtenção de qualquer medalha de ouro não chegou para resfriar os ânimos.»

«O técnico do Real Madrid, Zeljko Obradovic, sublinhou o trabalho defensivo e a paciência da sua formação, mas fez questão de refrear os ânimos dos mais optimistas (…).»

Pergunta:

Gostaria de saber o significado da frase «por causa do santo se beija o altar».

Resposta:

Nas fontes escritas que temos ao nosso dispor para consulta, não nos foi possível aferir a origem e o sentido do provérbio que a consulente indica. Ainda assim, identificámos o provérbio, algo semelhante, «por causa do santo [dos santos] beijam-se as pedras», em O Grande Livro dos Provérbios (3.ª ed., 2005, p. 464), de José Pedro Machado, que, no entanto, não se refere ao seu sentido.

uma pesquisa na rede nos indicou diversas ocorrências do provérbio em apreço, o qual é interpretado como «estar disposto a fazer qualquer sacrifício por algo ou alguém de que ou de quem se gosta».