Paulo J. S. Barata - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Paulo J. S. Barata
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Paulo J. S. Barata é consultor do Ciberdúvidas. Licenciado em História, mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares. Tem os cursos de especialização em Ciências Documentais (opção Biblioteca e Documentação) e de especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo). É autor de trabalhos nas áreas da Biblioteconomia, da Arquivística e da História do Livro e das Bibliotecas. Foi bibliotecário, arquivista e editor. É atualmente técnico superior na Biblioteca Nacional de Portugal.

 
Textos publicados pelo autor

Num artigo em forma de carta dirigida ao ministro Álvaro Santos PereiraMiguel Sousa Tavares reincide no mau uso do verbo realizar. A frase é esta:

«Acontece, Álvaro, por aquilo que já me foi dado perceber,
que você ainda não realizou bem onde está: num país chamado Portugal»
(Expresso, primeiro caderno, p. 7)

Deveria lá estar obviamente entendeu ou compreendeu, em lugar de "realizou", um «falso amigo» oriundo de uma tradução indevida do verbo inglês to realize, que significa perceber, compreender, entender. (...)

Há uns dias, aproveitando um feriado, terminei finalmente a leitura do Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago.

A linguagem literária permite liberdades estilísticas que a linguagem referencial, assente na norma, não aceita. As escritas dos porventura dois mais representativos escritores da nossa contemporaneidade, José Saramago e António Lobo Antunes, são, aliás, disso bons exemplos. E ainda bem que assim é, pois só assim a língua se recria, se reinventa, se enriquece. Pessoalmente, leio com grande prazer os textos de um e de outro.

Uma Beneficiência  não beneficente

Um dia destes chegou-me às mãos uma correspondência do Tribunal Central Administrativo do Sul (TCAS). O TCAS fica situado na Rua da Beneficência, em Lisboa, porém, o sobrescrito a que tive acesso refere Rua da Beneficiência.

Surpreendi no jornal português Record (n.º 11 848, de 20 de setembro de 2011, p. 40) a palavra bazookada (do inglês bazooka), confirmando uma tendência recente para alguns aportuguesamentos de contestável legitimidade. Neste caso, ainda por cima, não há nenhuma razão para que não se proceda ao seu aportuguesamento regular, desde logo porque já existem palavras da mesma família em português.