Uma ocorrência inusitada de redenção é o tema desta crónica de Paulo J. S. Barata.
Utilizei recentemente um vale de oferta de um bilhete de cinema, em forma de carta, que simpaticamente me foi atribuído pela Zon, como compensação de há uns meses ter ficado sem televisão durante largas horas.
Um dos três bilhetes que solicitei foi-me, pois, oferecido contra a entrega da tal carta-vale. Ao receber o talão dos bilhetes, constato que o mesmo surge identificado como «Redenção Carta Zon Delight». Atenta a praga, não estranhei sequer o uso do termo inglês, estranhei, sim, o uso da palavra «redenção».É muito provável que também ele seja uma tradução literal do inglês redemption, em que uma das aceções é exatamente «o ato de trocar algo por dinheiro, um prémio, etc.». Ambas as palavras, a inglesa e a portuguesa, têm, aliás, a mesma etimologia (do latim redemptionem).
Porém, redenção não deixa de ser o ato ou efeito de remir, o resgate. E a palavra resgate também significa «troca» ou «permuta». Ora, o que eu fiz com aquela carta-vale foi, por via da sua entrega, «resgatar» o bilhete que me tinha sido oferecido, ou seja, trocar a carta-vale pelo bilhete.
A palavra resgate, com múltiplos sentidos, tem longa e antiga tradição de utilização na área comercial e dos negócios. É, ainda hoje, comummente utilizada na área financeira. Resgatam-se depósitos a prazo, aplicações financeiras, títulos de dívida pública, obrigações, ações, até países, como sabemos bem por estes dias… Ainda com este sentido, resgatam-se prémios, resgatam-se pontos em campanhas promocionais, etc.
Ora, sendo redenção palavra sinónima de resgate, e ainda que podendo tratar-se de uma tradução literal do inglês, há – parece-me – uma razoável plausibilidade semântica na «redenção» de um vale ou de uma carta que funcionava como tal…