Pergunta:
Eu tenho mesmo de deixar aqui um breve comentário sobre esta coisa! Na realidade nem os mais doutos que se propõem ensinar o bom português têm o cuidado de conjugar devidamente o ter de. Para ser franco começo mesmo a duvidar sobre a forma correcta.
Por favor ajudem-me!
Resposta:
Utilizar a construção «ter que» em vez de «ter de» é, efectivamente, uma incorrecção muito vulgar. E de tanto se ouvir e ver escrita, pode acontecer até que alguém que domine a língua cometa essa incorrecção. Não foi o caso do consulente, que utilizou adequadamente a construção «ter de», já que quis dizer «vejo-me na obrigação de», «assumo o dever de».
No Ciberdúvidas há já várias respostas sobre este assunto [Os erros de Marcelo, Ainda os erros de Marcelo, Ter que e ter de, Ter que e ter de]. No entanto, como o consulente pretende um texto que afaste completamente as suas dúvidas, vou proceder a uma sistematização.
1. Ter de
Ter de é uma expressão utilizada quando se pretende dizer que se tem o desejo, a necessidade, a obrigação ou o dever em relação a uma qualquer acção: «tenho de me ir embora» (= sou obrigado a ir-me embora, devo ir-me embora, tenho necessidade de me ir embora), «ele tem de arrumar o quarto» (= ele deve arrumar, tem o dever de arrumar o quarto), «temos de nos ouvir uns aos outros» (= temos o dever ou a obrigação de nos ouvir).
Nesta situação, o verbo «ter» é um verbo auxiliar da conjugação perifrástica: auxiliar ter + preposição de + verbo no infinitivo. Assim, «ter de», por si só, significa «ter necessidade de», «precisar de», «ser obrigado a», «dever», designando, pois, a necessidade de praticar a acção expressa pelo verbo que se segue, que é o verbo principal.
2. Ter que
Nesta situação, o verbo «ter» não é um auxiliar; é um verbo com a plena significação de «possuir», «ser detentor de», «estar na posse de», «desfrutar», «usufruir»,...