Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Um aluno escreveu, como exemplo de substantivo epiceno, a seguinte frase:
«O jacaré fêmea está grávida.»
Estou com dúvida sobre a correção.
Trata-se de um aluno de quarta série e foi uma frase escrita em uma avaliação.

Resposta:

Primeiro erro: grávida usa-se só para humanos (mulheres); para animais, o termo adequado é prenhe.
Segundo erro: a concordância faz-se com (o) jacaré, e não com fêmea, indo o adjectivo, por isso, sempre no masculino.

 

N.E. O autor escreve segundo a Norma de 1945.

Como já foi referido [ver À volta dos manuais escolares], está a decorrer o período de adopção de manuais escolares do Ensino Básico e do Secundário para o 3.º ano, o 6.º ano e o 12.º ano. Já falámos dos manuais de Língua Portuguesa para o 3.<font face=...

Pergunta:

Na obra "Manhã Submersa" de Vergílio Ferreira, temos a dada altura a seguinte expressão:
«A chama fervia pelo rastilho dentro, aproximava-se vertiginosamente da bolsa da pólvora. Uma placa de aço incandescente colava-se-me, por dentro, ao osso da fronte, queimava-me os olhos uma ácida lucidez. Eu estava sozinho, diante de mim e do mundo, perdido no súbito silêncio em redor.»
Gostaria de questionar o seguinte:
1.º) Na expressão «ácida lucidez» há algum efeito contraditório ao ponto de se considerar que a figura de estilo subjacente é a antítese?
2.º) Ou se pelo contrário o adjectivo «ácida» reforça, enfatiza a ideia de lucidez, acentua, agudiza, torna mais acutilante esta ideia de lucidez?
3.º) Qual a figura de estilo que está subjacente a esta expressão?
Grato pela vossa atenção e admirador incondicional do vosso trabalho, aguardo a vossa resposta.

Resposta:

A linguagem figurativa caracteriza-se por uma especial capacidade de criar evocações, impressões, sugestões. Esta passagem da Manhã Submersa exemplifica essa capacidade criadora.
Na expressão «ácida lucidez» não parece estar presente nenhum efeito contraditório traduzido por uma antítese ou oxímoro, pois a lucidez não é contrariada no seu pleno significado pelo adjectivo ácida, pelo contrário: este adjectivo acentua, evidencia a plena lucidez da personagem.
Lucidez significa «clareza de raciocínio», «brilho», «qualidade de quem é lúcido»; é palavra derivada precisamente de «lúcido», que em latim significava «claro, brilhante, luminoso, cheio de luz, manifesto». Ácido como adjectivo significa «azedo», «amargo», «acre», «que tem sabor ou cheiro semelhante ao do limão ou do vinagre», mas também «que tem as propriedades dos ácidos». Ora, entre as propriedades dos ácidos pode referir-se o facto de atacarem os objectos, corpos ou tecidos com os quais estão em contacto, de penetrarem neles, sendo por vezes cáusticos violentos.
Considero, assim, que estamos perante uma sinestesia, que consiste na fusão de diversas impressões sensoriais. O adjectivo ácida remete para a sensação olfactiva, para a gustativa e para a táctil (no contexto, sobretudo para estas últimas). O substantivo lucidez está relacionado com a visão, ainda que metaforicamente. O indivíduo lúcido é o que tem ou descobre a luz, o que «vê». Assim, a personagem vê claramente o que está a acontecer, e essa lucidez, essa visão clara da situação, contém em si uma sensação acutilante, ácida, amarga: nada está adocicado, nada está suavizado, pelo contrário, a dimensão aguda, aflitiva, da situação está bem presente diante dos seus olhos.
Muito obrigada pelas suas gentis palavras.

Está a decorrer em Portugal o período de adopção de manuais escolares para os Ensinos Básico e Secundário, previsto na circular n.º 6/2005, de 14 de Abril, circular anual da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular sobre a adopção de manuais escolares.

No que diz respeito aos manuais de Língua Portuguesa e de Português, para o ano lectivo de 2005/2006 serão adoptados os manuais do 3.º ano, do 6.º ano e do 12.º ano. Os do 3.º ano deviam ser adoptados até ao dia 27 de Maio...

Agradeço ao consulente Jorge Madeira Mendes a sua contestação.

Considero que tem razão quando defende que com a expressão “um dos que” o verbo deve ir para o plural. É a regra, é a concordância sintáctica mais adequada, como referi no início da resposta que dei. O antecedente mais próximo do relativo “que” está no plural (“os”, “aqueles”), pelo que o verbo...