Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

   Por que se escreve São Paulo e não Santo Paulo?

Resposta:

   São é abreviatura de santo, que se utiliza quando o nome que se segue começa por consoante. Se começar por vogal, não se faz a abreviatura: evita-se a articulação do ditongo e vogal em hiato.

   Exemplos: São João, São Lucas, São Marcos, São Pedro, São Vicente, no primeiro caso; mas, no segundo, Santo André, Santo Agostinho, Santo António, Santa Engrácia de Braga, Santo Ovídeo.

Pergunta:

   Qual a vossa opinião acerca da possibilidade de se proceder a uma evolução – a médio e longo prazo, obviamente – visando a facilitação do uso da língua portuguesa, começando-se por eliminar alguns dos casos especiais da leitura e da escrita que tanto tempo ocupam na didáctica do 1.º ciclo?

   Temos exemplos: porquê continuar o "x" a fazer o papel de outras consoantes?

   Porque não dar a cada consoante um e só um – o seu mais comum – valor? Porque é que o "g" não pode desempenhar o seu devido papel e quando encontra um "e" ou um "i" vai buscar a sua muleta? E o "s" que som tem? E o "c" que valor tem? E para que preciso eu de um "q", de um "ç"?

   Vamos simplificar o futuro? Eu gosto tanto da minha língua! Pena é que ela seja tão difícil de aprender e de ensinar, dada a complexidade da sua gramática, que ocupa demasiado tempo numa era que exige rapidez.

   Era importante para mim uma resposta "urjente", dado estar empenhado nesta "cestão". "Ceria" a vosa opinião. Bem-hajam!

Resposta:

   Por estas palavras, deduzo que o consulente encara a língua essencialmente como um instrumento, como uma ferramenta a utilizar.

   Ora, a língua é um elemento da cultura e identidade de um povo. Ela tem em si uma história, nela está presente toda uma herança cultural. Não foi por acaso que o esperanto não teve aceitação e não é por acaso que tem sido tão difícil chegar a acordos ortográficos com os outros países de língua portuguesa...

   Como sabe, existem métodos de ensino adequados às dificuldades inerentes à aprendizagem de uma língua, como à de qualquer outra matéria. O conceito de fácil ou de difícil é subjectivo. A dificuldade é um desafio e faz com que as pessoas desenvolvam as suas capacidades e cresçam. A era poderá exigir rapidez, como diz, mas nós, homens, é que fazemos o nosso tempo e temos de definir o que é importante, a que é que damos valor. A riqueza cultural não se obtém com facilitismos...

Pergunta:

Li no n.º 436 da revista Visão o habitual artigo de Clara Pinto Correia. A certo ponto afirma: "... e deparava com as pessoas a discutirem...". Mais à frente diz: "... a ciência portuguesa funciona (...) com projectos (...) a aparecerem...".

Esclareçam-me por favor se, em qualquer um dos exemplos, não haverá um predicado a mais. O 2.º verbo, respectivamente "discutir" e "aparecer", não deveria estar no infinitivo?

Resposta:

As construções utilizadas estão correctas. A autora utiliza o infinitivo pessoal ou flexionado, porque o seu sujeito é diferente do do verbo da frase na qual se integra.

No primeiro caso, o sujeito de “deparava” não está expresso (falta o princípio da frase), mas, pela forma verbal, deduz-se que será uma 1.ª ou 3.ª pessoa do singular (eu, ele ou ela). O sujeito de “discutirem” é “as pessoas”, 3.ª pessoa do plural, com a qual a forma verbal concorda.

No segundo caso, o sujeito de “funciona” é “a ciência portuguesa”, enquanto o de “aparecerem” é “projectos”.

O infinitivo impessoal desses verbos é discutir e aparecer.

Pergunta:

Num produto que é biodegradável, qual é o termo correcto? "Ele tem uma elevada degrabilidade” ou “elevada degradabilidade"?

Resposta:

O termo correcto é biodegradabilidade, registado no Dicionário Aurélio Séc. XXI (1999), bem como nos dicionários da Porto Editora e Michaelis, que estão em linha e aos quais se pode aceder através das “Ligações” da 1.ª página do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

Pergunta:

Nos dicionários de Língua Portuguesa que consultei não existe o verbo "chantagear", existe "chantajar" cujo particípio passado é "chantajar". A vossa explicação é lógica; era o que eu pensava. Aliás é o que toda a gente diz. Ainda não estou esclarecida nesta questão.

Resposta:

O verbo chantagear, da mesma família do substantivo chantagem, do francês chantage, está registado nos dicionários modernos, como, por exemplo, o Dicionário Novo Aurélio Século XXI ou os da Porto Editora e Michaelis. O termo chantajar também está registado no Dicionário da Porto Editora (remetendo para chantagear), bem como na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

Assim, embora o termo mais frequente seja chantageado, também existe o particípio passado chantajado.