Pergunta:
Qual a vossa opinião acerca da possibilidade de se proceder a uma evolução – a médio e longo prazo, obviamente – visando a facilitação do uso da língua portuguesa, começando-se por eliminar alguns dos casos especiais da leitura e da escrita que tanto tempo ocupam na didáctica do 1.º ciclo?
Temos exemplos: porquê continuar o "x" a fazer o papel de outras consoantes?
Porque não dar a cada consoante um e só um – o seu mais comum – valor? Porque é que o "g" não pode desempenhar o seu devido papel e quando encontra um "e" ou um "i" vai buscar a sua muleta? E o "s" que som tem? E o "c" que valor tem? E para que preciso eu de um "q", de um "ç"?
Vamos simplificar o futuro? Eu gosto tanto da minha língua! Pena é que ela seja tão difícil de aprender e de ensinar, dada a complexidade da sua gramática, que ocupa demasiado tempo numa era que exige rapidez.
Era importante para mim uma resposta "urjente", dado estar empenhado nesta "cestão". "Ceria" a vosa opinião. Bem-hajam!
Resposta:
Por estas palavras, deduzo que o consulente encara a língua essencialmente como um instrumento, como uma ferramenta a utilizar.
Ora, a língua é um elemento da cultura e identidade de um povo. Ela tem em si uma história, nela está presente toda uma herança cultural. Não foi por acaso que o esperanto não teve aceitação e não é por acaso que tem sido tão difícil chegar a acordos ortográficos com os outros países de língua portuguesa...
Como sabe, existem métodos de ensino adequados às dificuldades inerentes à aprendizagem de uma língua, como à de qualquer outra matéria. O conceito de fácil ou de difícil é subjectivo. A dificuldade é um desafio e faz com que as pessoas desenvolvam as suas capacidades e cresçam. A era poderá exigir rapidez, como diz, mas nós, homens, é que fazemos o nosso tempo e temos de definir o que é importante, a que é que damos valor. A riqueza cultural não se obtém com facilitismos...