Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber por que o s entre n e vogal é pronunciado como s (prensa) e, no entanto, em transação, é pronunciado com som de z.

Resposta:

A grafia com s ou z e respectiva pronúncia justificam-se pela etimologia e evolução que as palavras sofreram por diversas circunstâncias.

As palavras que apresenta provêm ambas do latim (prehensa e transactione-), mas prehensa é o particípio de prehendere, enquanto transactione- é formada pelo prefixo trans, sendo sonora a pronúncia do s deste prefixo em português, ao ligar-se à vogal a.

Pergunta:

Chamo-me Giovanni Agnoloni, e sou um estudante italiano de direito em Florença. Estudo Português como paixão pessoal, e espero que possa ser-me útil no trabalho que dentro de um ano é possível que comece. Tenho uma pergunta:

Sobre as orações subordinadas finais, é possível formá-las com o futuro do conjuntivo ("faço-o para ti/tu[?] aprenderes") ou deve-se sempre usar, em dependência do tempo da principal, o presente ou o pretérito imperfeito do conjuntivo ("faço-o para que tu aprendas" / "fiz-lo para que tu aprendesses")?

Muito obrigado.

Resposta:

As orações subordinadas finais podem ser construídas com o infinitivo (para + infinito) ou com o conjuntivo (para que + conjuntivo). Na linguagem oral, é mais usual o infinitivo.

As frases correctas são:

“Faço-o para tu aprenderes.”
“Fi-lo para tu aprenderes.”
“Faço-o para que tu aprendas.”
“Fi-lo para que tu aprendesses.”

No caso deste verbo regular da 2.ª conjugação, as formas do infinitivo são iguais às do futuro do conjuntivo, daí a sua confusão. Verifique a diferença, com outro verbo:

“Faço-o para tu veres o que se passa.” – Infinitivo
“Quando tu vires o que se passa...” – Futuro do Conjuntivo

Quanto à forma verbal seguida do pronome clítico “o”, quando ela termina em r, s ou z, essa consoante desaparece, mantendo o pronome a forma antiga “lo”.

Exemplos:

“Vou pô-lo em cima da mesa.” (pôr)
“Tu compra-la com desconto.” (compras)
“Ele di-lo com todo o respeito.” (diz)

Pergunta:

Sou professora de português para estrangeiros e deparo-me o tempo todo com perguntas difíceis de responder.

Um dos meus alunos perguntou-me qual a diferença entre "bastar" e "ser suficiente".

Pedia a vossa ajuda...

Grata desde já!...

Resposta:

Em muitos contextos, bastar utiliza-se com o significado de «ser suficiente», «ser apenas o preciso», «ser o bastante», podendo os dois termos permutar entre si, pois têm o mesmo significado.

Ex.: «Bastaram dois minutos para ele compreender tudo» = «Foram suficientes dois minutos para ele compreender tudo.»

No entanto, em certos contextos, o termo bastar ganha uma conotação afectiva, não podendo ser substituído por «ser suficiente».

Ex.: «Basta de tanto sofrimento!»

Pergunta:

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer-vos por terem respondido às dúvidas que vos coloquei.

Depois, pretendia que me ajudassem a esclarecer algumas dúvidas.

Como é sabido, muitas vezes, o "que" separa orações ligadas entre si, mas frequentemente apercebo-me que o "que" aparece entre vírgulas, ou, então, com vírgula antes ou depois do "que". Mas, para ser sincera, tenho alguma dificuldade em colocá-las em ambos os casos, ou perceber a sua necessidade.

Agradecia que me esclarecessem esta dúvida e, se possível, com exemplos concretos.

Muito obrigada pela vossa colaboração.

Resposta:

A palavra “que” pode ser um pronome (interrogativo ou relativo), um advérbio, uma preposição, uma conjunção (coordenativa ou subordinativa) ou uma partícula de realce ou expletiva.

A sua utilização precedida ou seguida de vírgula depende não só da sua natureza morfológica como da construção frásica em causa, pelo que, para a esclarecer, o melhor talvez seja enviar-nos uma frase a respeito da qual tenha dúvidas.

Não sendo exaustiva, refiro, no entanto, que:

1. Como pronome relativo, o que é precedido de vírgula, quando inicia orações explicativas.
Ex.: Ele, que tem a mania que percebe tudo, não estava, afinal, a ver bem a situação.
2. Como conjunção explicativa ou causal, é sempre precedido de vírgula.
Ex.: Não te distraias, que podes ter um acidente.
3. Como conjunção consecutiva, também é precedido de vírgula.
Ex.: Ele falou tanto, tanto, que ficámos cansados de o ouvir.
4. Na generalidade das outras situações, não é precedido de vírgula. Chamo especialmente a atenção para o que como conjunção subordinativa integrante, que nunca deve ser precedido de vírgula, porque a oração que inicia é parte integrante da anterior.
Ex.: Queria que esclarecesses tudo.
5. Naturalmente que, na situação anterior, o que pode ter uma vírgula a precedê-lo, se ela estiver a assinalar uma expressão circunstancial de qualquer natureza, uma oração, etc.
Ex.: Quero, diga ele o que diga, que esclareças tudo.
6. Em qualquer das situações anteriores, pode ser colocada uma vírgula depois do que, quando se lhe segue um sintagma explicativo, circunstancial, uma oração, etc.
Ex.: Penso que, quaisquer que sejam as circunstâncias, o deves ouvir com atenção.
7. Repare,...

Pergunta:

É correto dizer: "Todo dia à noite eu saio de casa"?

Minha dúvida é em relação a "todo dia de noite".

Resposta:

Tanto poderá usar a expressão “à noite”, como “de noite”, dependendo do que quer dizer.

Se pretende informar que sai de casa todos os dias no período da noite, que é habitual à noite sair de casa, deverá usar a locução adverbial “à noite”, que especifica o momento do dia, em relação a “todos os dias”, e deverá ficar-lhe adjacente: “Todos os dias à noite, eu saio de casa.”

Se pretende dizer que, quando sai de casa, já é noite, então deverá usar a expressão “de noite”, que se liga ao acto de sair, e não aos dias: “Todos os dias, eu saio de casa (já) de noite.”

Cf. Noite vs. oito