Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Em trabalho de Douto Prof. Cat. aparece escrito:

«códice em pergaminho».

Estará correcto, neste caso, por ser material de suporte?

Ou foi lapso de Sua Excelência?

Sempre grato pelas sábias respostas.

Resposta:

O consulente não referiu em que contexto tal expressão surge, mas, em princípio, parece-me correcta.

Códice significa volume manuscrito antigo, código antigo. Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, códice é um vocábulo oriundo do latim ‘codex’, de ‘caudex’, que significa tronco, raiz de árvore, porque era uso entre os povos antigos traçar os caracteres da escrita em tábuas de madeira recobertas duma camada de gesso ou de cera (‘tabulae, tabellae, cerae’). De códice vem depois o nome de código (compilação de leis), códice (manuscrito antigo) e codicilo (apêndice de código). A origem do vocábulo códice não é, pois, literária, mas derivada da própria matéria de que ele é formado. Além desta matéria, outras foram anteriormente usadas na escrita de diversos povos da Antiguidade, como as folhas de palmeira, metais, pedras e tijolos.

Ao conjunto de várias tábuas de cera quadradas ou rectangulares dava-se o nome de códice. Os códices deram origem aos livros de papiro e depois de pergaminho. O pergaminho é uma pele de carneiro, de ovelha ou de cordeiro, preparada, que serve para nela se escrever.

Obrigada pelas gentis palavras.

Pergunta:

Num deste dias, numa acção de formação, ouvi repetidamente pronunciar a palavra "credor" com o "e" fechado e não com o "e" aberto, como costumamos ouvir, inclusive na comunicação social. Desta forma, solicitava que me informassem qual a forma correcta para a pronunciação desta palavra, com o "e" aberto ou fechado, tendo em conta que, na palavra crédito, o "e" é aberto dado ser uma palavra esdrúxula e em "creditar" o "e" é fechado.

Os meus agradecimentos.

Resposta:

A pronúncia das palavras tem normalmente uma justificação etimológica.

A palavra credor pronuncia-se com e aberto. Provém da palavra latina 'creditor, oris', que sofreu a seguinte evolução: 'creditorem' > 'crededor' > 'creedor' > credor. A crase acentuou a abertura da vogal.

Pergunta:

Num texto do nosso manual, surge a seguinte passagem:

«Pela tardinha,
a chover
– (uma chuva miudinha) –,
o pregão sobe no ar...»

Gostaríamos que nos ajudassem a compreender a pontuação usada na terceira linha.

Os nossos agradecimentos.

Resposta:

As nossas saudações aos alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico de Santa Catarina e cumprimentos pelo seu interesse pela Língua Portuguesa. Sejam bem-vindos ao Ciberdúvidas!

Na frase que apresentam há a considerar três aspectos: o uso da vírgula após o travessão, o uso dos parênteses e o uso dos travessões. Vou referir um de cada vez.

A vírgula deve existir porque ela separa do sujeito o complemento circunstancial, que está colocado no início da frase. Quando o complemento circunstancial (ou adjunto adverbial) vem antecipado: deverá ser separado do sujeito da oração por uma vírgula. Essa vírgula pode surgir depois de parênteses ou depois de um travessão, desde que o sujeito da oração venha depois desses parênteses ou travessão.

No caso desta frase, o sujeito da oração o pregão sobe no ar é o pregão, e a expressão «pela tardinha a chover (uma chuva miudinha)» é um adjunto adverbial (um complemento circunstancial).

Quanto aos parênteses, eles usam-se para intercalar num texto uma explicação ou um esclarecimento, o que é o caso. O autor, depois de referir que estava a chover, esclarece qual o tipo de chuva. Assim, podem usar-se aqui os parênteses.

Os travessões são, às vezes, utilizados para um efeito semelhante ao dos parênteses: isolar, num contexto, palavras, expressões ou frases. No entanto, as palavras ou expressões isoladas por meio de travessões não têm normalmente apenas o efeito de esclarecimento, mas também o de aparte ou de comentário, ou constituem mesmo uma frase realmente suplementar, como neste exemplo: «O que te vou dizer – presta muita atenção – é um segredo guardado há muitos anos.».

Já o uso simultâneo de parênteses e travessões para inter...

Pergunta:

Escreve-se grafito, grafite ou graffiti?

Pretendo referir-me aos desenhos ou rabiscos feitos nas paredes, normalmente com "sprays" de cores berrantes. Mas como se escreve?

1. grafito (como surge no dicionário Universal da Texto Editora),

2. grafite (como no Houaiss brasileiro)

3. ou graffiti (como se diz no anexo do dicionário Universal)?

E consequentemente, qual o plural da palavra (os graffiti ou os graffitis)?

Muito obrigado.

Resposta:

A palavra graffiti (plural de graffito), com o significado de frases ou desenhos feitos em muros ou paredes de locais públicos, é um estrangeirismo italiano. A palavra graffiti já está no plural e usa-se precisamente no plural, que em italiano não leva «s». Optando por ela, sendo uma palavra estrangeira, devemos escrevê-la entre aspas ou em itálico.

Em português, para designar o mesmo, temos o termo grafito – grafitos, no plural –, já existente em dicionários portugueses desde o século XIX, com o significado de «inscrição em paredes ou monumentos antigos» e que ganhou também aquele significado mais recente.

Quanto a grafite – ou grafita, no Brasil –, é um termo que provém do francês (graphite): designa o mineral de cor negra utilizado no fabrico de lápis.

Todas estas palavras têm, na sua composição, o elemento graf-, do grego gráphein, que significa «escrever» ou «gravar».

De uso já corrente é o verbo grafitar e o substantivo grafiteiro.

Pergunta:

O que é um discurso directo relatado?
E como se faz ou encontra-se na frase?

Resposta:

Um discurso relatado é um discurso indirecto. Por meio de um discurso indirecto relata-se um discurso directo (uma pergunta, uma resposta, um diálogo, etc.). O discurso indirecto consiste na transmissão diferida de palavras geralmente anteriormente proferidas. O autor do discurso indirecto incorpora no seu próprio falar frases suas ou de outrem, construindo orações subordinadas e alterando a forma como foram inicialmente proferidas.
No plano formal, na escrita, o discurso directo é marcado pelos dois pontos, o travessão, a mudança de linha, o uso de exclamações, interrogações, interjeições, vocativos, imperativos, o predomínio da 1.ª e da 2.ª pessoa. No discurso indirecto ocorre o relato do que foi dito, respeitando-se o conteúdo, mas alterando-se a forma.


Discurso directo Discurso indirecto
- Vais sair?, perguntou ele.
- Não!, disse ela.
Ele perguntou-lhe se ela ia sair.
Ela disse-lhe que não.