Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

[A propósito da resposta Sobre os tritongos] aconselha-se a Maria Regina Rocha que se inteire da prosódia brasileira antes de responder em casos destes. /Enxáguam/ no Brasil, /enxaguam/ em Portugal.

Resposta:

É sempre com muito gosto que recebemos as observações do nosso prezado consulente Carlos Ferreira.

Na resposta que critica, eu disse que não concordava com os gramáticos que consideram existir um tritongo na forma verbal enxaguam e reafirmo essa minha discordância. Sei que conceituados gramáticos brasileiros, como, por exemplo, Evanildo Bechara (pág. 243 da 37.ª ed. da sua Moderna Gramática Portuguesa, 1999), apresentam este verbo acentuado graficamente no Presente do Indicativo e no Presente do Conjuntivo (as pessoas do singular e a terceira pessoa do plural: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágüe, enxágües, enxágüe, enxágüem), mas não filio esta perspectiva e concordo, sim, com a opinião de Napoleão Mendes de Almeida no seu Dicionário de Questões Vernáculas (Edições Ática, São Paulo), que passo a transcrever:

«São comuns na linguagem popular as formas águo, deságua, enxágua e outras semelhantes; há até quem considere serem essas as pronúncias verdadeiras.

É opinião nossa, firmada na doutrina da maioria dos gramáticos modernos, deverem esses verbos ser conjugados como o verbo averiguar, pouco importando pesquisar se o g da terminação guar corresponde a um c ou a um q latino. Será argumento bastante para justificar as pronúncias agúo,

Pergunta:

Diz-se /térmas/ ou /têrmas/? Porquê?

Obrigada.

Resposta:

A pronúncia das palavras tem, normalmente, uma justificação etimológica, mas, por vezes, assume variações em determinadas regiões ou grupos de falantes. Em Portugal, é predominante a pronúncia de termas com o e fechado: /têrmas/. Provém do grego ‘thermá’, pelo latim ‘thermas’.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem do termo «câmara ardente».

Antecipadamente grato.

Resposta:

Câmara é a designação antiga de quarto, compartimento. Antigamente, quando uma pessoa morria, era depositada num quarto, geralmente forrado de preto, iluminado por velas ou tochas, até se fazer o funeral. Era um quarto (câmara) onde ardiam velas ou tochas (ardente). Hoje utiliza-se a expressão «estar em câmara-ardente» para referir a situação de uma pessoa estar no caixão numa capela ou local de respeito, ladeada de círios, velada pelos seus familiares e amigos antes de ser inumada.

Pergunta:

Como se faz a divisão silábica e a translineação das palavras "aquário" e "água" e qual a regra utilizada.

Obrigado.

Resposta:

Penso que pretende duas respostas: uma respeitante à divisão silábica e outra à translineação das palavras que indica. A translineação de palavras faz-se, na generalidade, respeitando a divisão silábica, mas há algumas excepções, das quais refiro duas que interessam para as palavras que refere:

– não se escreve uma vogal sozinha em final ou início de linha, mesmo que por si só constitua sílaba;
– nunca se separam as combinações qu e gu da vogal ou ditongo imediato, quer o u se pronuncie, quer não.

Assim, a palavra água, pelo que agora mesmo referi, não pode ser translineada, e a palavra aquário só o é assim: aquá-rio.

Quanto à divisão silábica, ela decorre do conceito de sílaba.

Tradicionalmente, considerava-se como podendo constituir sílaba: uma vogal, um ditongo (decrescente), uma vogal precedida e/ou seguida de consoante ou grupo consonântico, um ditongo precedido de consoante ou grupo consonântico e/ou seguido de consoante. Segundo esta perspectiva, as palavras em causa têm as seguintes sílabas: á-gu-a, a-qu-á-ri-o. Refira-se que os dígrafos qu e gu constituem sílaba desde que o u se pronuncie.

Actualmente, consideram-se como constituindo sílaba ainda os ditongos crescentes e os tritongos, o que leva a que se faça a seguinte divisão silábica: a-quá-rio, á-gua.

Pergunta:

Qual o significado da palavra propinas? É correcta a utilização do termo propinas por universidades privadas?

Existe apenas uma resposta no Ciberdúvidas em que consta a palavra "propina", mas não satisfaz a minha dúvida.

Obrigada.

Resposta:

Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, propina é a quantia que se paga ao Estado para permissão de matrículas, exames e outros actos. A propina originariamente não dizia respeito apenas à matrícula no Ensino Superior, mas também à efectuada no Ensino Liceal. Qualquer destes níveis de ensino, originariamente, era exclusivamente tutelado pelo Estado; daí o pagamento se destinar ao Estado. Hoje, com o crescimento do ensino privado e autonomia dessas universidades, passaram também a ser pagas propinas aos privados.