Viagens por sete mares e 80 línguas
Por Marco Neves
A democratização da linguística pode muito bem ser considerada uma das metas das publicações de Marco Neves. A sua mais recente obra Palavras que o português deu ao mundo – viagens por sete mares e 80 línguas (Editora Guerra & Paz) é disso prova, ao oferecer ao leitor uma viagem à história de muitas palavras numa prosa solta e cativante que abandona o registo sério e formal dos seculares compêndios etimológicos feitos por e para especialistas e investigadores, sem, contudo, abdicar da seriedade e do rigor.
Neste registo inovador e muito próprio, o autor guia o leitor num texto que assume, de modo original, o hibridismo entre o género relato de viagens e entrada de dicionário, numa viagem que vai dos lugares às línguas, às palavras, à fonologia, às letras do alfabeto de diferentes línguas, desenvolvendo um percurso histórico que aponta e analisa os factos que conduziram às realidades linguísticas que hoje conhecemos. O leitor é, desta feita, guiado por entre os acontecimentos que determinaram a escolha de vocábulos, a sua significação ou a sua fonologia, testemunhando o percurso histórico das palavras, desde o proto-indo-europeu (nas suas formas recompostas) à transformação que sofreram em diversas línguas. Exemplo desta abordagem é o interessante relato que tem lugar no capítulo intitulado «Viagem a bordo da água» onde se explica o modo como da forma proto-itálica *akw