José Neves Henriques (1916-2008) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Neves Henriques (1916-2008)
José Neves Henriques (1916-2008)
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Professor de Português. Consultor e membro do Conselho Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Antigo professor do Colégio Militar, de Lisboa; foi membro do Conselho Científico e diretor do boletim da Sociedade da Língua Portuguesa; licenciado, com tese, em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra; foi autor de várias obras de referência (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello), tais como Gramática de hojeA Regra, a Língua e a Norma A Regra, Comunicação e Língua PortuguesaMinha Terra e Minha Gente e A Língua e a Norma, entre outrosFaleceu no dia 4 de março de 2008.

CfMorreu consultor do Ciberdúvidas

 
Textos publicados pelo autor

A resposta dada por mim no dia 8 de Novembro (cf. Respostas Anteriores) está inteiramente certa. Eis o que se me perguntou pela consulente Angelina: "As palavras cota e quota são equivalentes? Podemos usar uma ou outra sem qualquer restrição?" Vejamos então.

Há mais de uma palavra com a forma cota:

1 - Armadura que antigamente os cavaleiros usavam por cima da roupa para se defenderem. Deriva do francês antigo "cote".

2 - Antiga unidade de medida da India. Deriva do tâmul "kottei".

Pergunta:

Trinta por cento das pessoas tem/têm…
Na sequência da resposta, diz-se:
Quando, no predicado, há um verbo de ligação, a concordância do verbo faz-se com o predicativo do sujeito:
a) Trinta por cento das pessoas eram comerciantes.
Mas:
b) Trinta por cento das pessoas era / parecia gente culta.
Dr. José Neves Henriques a alínea b) parece-me não soar muito bem.
"Aqueles trinta por cento das pessoas eram gente culta", está correcto?

Resposta:

Pelo modo como me chegou a sua consulta, não se percebe claramente o que pretende. Julgo, porém, que quer saber se a frase seguinte está correcta:

"Aqueles trinta por cento das pessoas era gente culta".

A concordância do verbo ser levanta muitos problemas, de que não vale a pena agora ocupar-nos.

É certo que, na frase dada, o sujeito é "Aqueles trinta por cento das pessoas", no plural. Quando o sujeito não é personificado, o verbo ser concorda, geralmente, com o predicativo do sujeito: "Cinco milhões é um rio de dinheiro."

Na frase apresentada, o núcleo do sujeito é "Aqueles trinta por cento" que não tem personificação. O complemento determinativo "das pessoas", que apenas é determinativo de "aqueles trinta por cento", não é suficiente para verdadeiramente personalizar o núcleo do sujeito, "gente culta", que é do singular, tem em nossa mente bastante mais impacto de que o sujeito.

Por tudo isto, somos atraídos a concordar o verbo ser com o predicativo do sujeito, em vez de com o sujeito. É a chamada concordância por atracção em vez da concordância gramatical.

Há ainda outros argumentos, segundo os quais podemos aceitar a concordância do verbo ser com o predicativo. Aqui vai mais um.

Informa o Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa de Domingos Paschoal Cegalla (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro), que o verbo ser concorda com o predicativo, quando exprime quantidade, preço, medida e o predicativo é uma das palavras "muito", "pouco" e análogas. Exemplo: "Dez mil dólares era muito".

O caso não é precisamente o mesmo, ...

Pergunta:

Como se deve pronunciar:

jo(ê)lho ou jo(ei)lho?

co(ê)lho ou co(ei)lho? e se ambas as formas estão correctas qual a razão para as duas pronúncias?

Resposta:

Devemos pronunciar /joêlho/ e /coêlho/, porque a pronúncia "/joeilho/" e "/coeilho/" é um regionalismo.

Pergunta:

Imaginemos um título de capítulo:
Mente Sã/Corpo São
Só que queremos isto em duas linhas!
Será: Mente Sã/
/Corpo São
ou
Mente Sã/
Corpo São

Resposta:

Compreende-se perfeitamente a vossa hesitação. Ao mudar de linha é preferível repetir a barra, à semelhança do que devemos fazer com o hífen e com o sinal de igual (=), etc., porque fica a escrita mais clara, embora menos estética.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a palavra correcta em Portugal: «parque de estacionamento» ou «parqueamento».
Obrigado e parabéns.

Resposta:

Parque de estacionamento.É esta a designação corrente e correcta. Parqueamento é outra coisa: é a "acção ou resultado da acção de parqueamento". Podemos, por exemplo, dizer assim: "Aqui o parqueamento é muito caro".