Pelo modo como me chegou a sua consulta, não se percebe claramente o que pretende. Julgo, porém, que quer saber se a frase seguinte está correcta:
"Aqueles trinta por cento das pessoas era gente culta".
A concordância do verbo ser levanta muitos problemas, de que não vale a pena agora ocupar-nos.
É certo que, na frase dada, o sujeito é "Aqueles trinta por cento das pessoas", no plural. Quando o sujeito não é personificado, o verbo ser concorda, geralmente, com o predicativo do sujeito: "Cinco milhões é um rio de dinheiro."
Na frase apresentada, o núcleo do sujeito é "Aqueles trinta por cento" que não tem personificação. O complemento determinativo "das pessoas", que apenas é determinativo de "aqueles trinta por cento", não é suficiente para verdadeiramente personalizar o núcleo do sujeito, "gente culta", que é do singular, tem em nossa mente bastante mais impacto de que o sujeito.
Por tudo isto, somos atraídos a concordar o verbo ser com o predicativo do sujeito, em vez de com o sujeito. É a chamada concordância por atracção em vez da concordância gramatical.
Há ainda outros argumentos, segundo os quais podemos aceitar a concordância do verbo ser com o predicativo. Aqui vai mais um.
Informa o Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa de Domingos Paschoal Cegalla (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro), que o verbo ser concorda com o predicativo, quando exprime quantidade, preço, medida e o predicativo é uma das palavras "muito", "pouco" e análogas. Exemplo: "Dez mil dólares era muito".
O caso não é precisamente o mesmo, mas semelhante: nos dois, o sujeito exprime quantidade. Na frase da consulta, o predicativo não é "muito" nem "pouco", mas palavra análoga quanto ao sentido, porque também indica quantidade.
Tudo isto não quer dizer que seja de pôr inteiramente de lado a sintaxe "eram gente culta".
Na minha resposta anterior, julgo que não fui tão claro. As minhas desculpas.
Não raro, é-se deficiente em assuntos de linguagem, porque não há estudo tão lato - e completo - como o da língua materna.