José Neves Henriques (1916-2008) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Neves Henriques (1916-2008)
José Neves Henriques (1916-2008)
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Professor de Português. Consultor e membro do Conselho Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Antigo professor do Colégio Militar, de Lisboa; foi membro do Conselho Científico e diretor do boletim da Sociedade da Língua Portuguesa; licenciado, com tese, em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra; foi autor de várias obras de referência (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello), tais como Gramática de hojeA Regra, a Língua e a Norma A Regra, Comunicação e Língua PortuguesaMinha Terra e Minha Gente e A Língua e a Norma, entre outrosFaleceu no dia 4 de março de 2008.

CfMorreu consultor do Ciberdúvidas

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Sou estudante de Medicina e a minha pergunta é a seguinte:
Será correcto dizermos «de modos que»?

Resposta:

De facto, ouvimos às vezes de modos que (= de maneira que e não de maneira a) em vez de de modo que. Assim é que está certo. Um exemplo: «Ele come demasiado, de modo que está muito gordo.».

Pergunta:

O que quer dizer, exactamente, «Salomónico»?

Resposta:

Este adjectivo empregamo-lo em três acepções conforme o contexto:

a) Significa «que pertence ou é relativo a Salomão, rei dos Hebreus, que reinou de 975 a.C. a 935 a.C. (Enciclop. Verbo). Era considerado um rei sábio e criterioso. Daqui o falar-se na «justiça salomónica».

b) Pertencente ou relativo às ilhas Salomão, que ficam no Sul do Pacífico.

c) Significa, também, o natural ou habitante das ilhas Salomão.

Salomónico deriva do latim Salomone(m) (Salomão) + -ico, sufixo que traduz as ideias de semelhança, presença, referência, relação.

Pergunta:

No Norte, muitas pessoas, ao mencionarem as 12h30, dizem «meio-dia e meio». Incorrecto?

Resposta:

Dizer "meio-dia e meio" não é correcto. Devemos dizer meio-dia e meia, que é encurtamento de meio-dia e meia hora.

Pergunta:

Na seguinte frase, deve dizer-se «tais como» ou «tal como»: «A menos que a autorização seja justificada por razões ligadas ao interesse geral tais como a protecção dos consumidores»?

Resposta:

Como sabemos, a situação em que se passam os acontecimentos interfere na linguagem. Para darmos uma resposta precisa, necessário é estarmos de posse da situação. Como tal não acontece, a frase não significa precisamente o mesmo com tal e com tais. Ora vejamos:

a) A menos que a autorização seja justificada por razões ligadas ao interesse geral (e que sejam) tais como (é) a protecção dos consumidores.

b) A menos que a autorização seja justificada por razões ligadas ao interesse geral tal como (ligada está) a protecção dos consumidores.

Mais nada podemos dizer, porque não conhecemos a situação.

Pergunta:

   Qual a diferença, de sentido, entre as frases «falar em» e «falar de»? Significam a mesma coisa?

Resposta:

Falar em e falar de significam o mesmo: falar de / em alguma pessoa ou coisa.

Em certas situações, porém, falar de pode significar menosprezar, desdenhar. Reparemos nestas frases:

1. «Estou muito aborrecido contigo, andas para aí a falar de mim…»

2. «O João fez-te algum mal para andares a falar dele

3. «Pois é, o que fazes é só falar de mim. Já te esqueceste dos favores que te fiz.»

4. «Na conferência que o Manuel proferiu, falou dos infelizes que por esse mundo passam fome.»

Nas frases 1 a 3 nota-se que há uma situação desagradável entre duas pessoas, o que não se verifica na frase 4.

Vejamos ainda mais estas duas frases:

5. «Este livro fala da fundação de Portugal.»

6. «Este livro fala na fundação de Portugal.»

Na frase 5, entende-se, ou pode-se entender, que o assunto de que o livro trata é a fundação de Portugal.

Na frase 6 entende-se, ou pode-se entender, que, entre outros assuntos, o livro fala da fundação de Portugal. Isto é, aponta-se para um dos assuntos de que o livro fala. Este sentido é devido à presença da preposição em, que é, também, uma preposição de lugar onde. É, pois, uma preposição que «aponta» para determinado lugar, convertido a...