José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria que me dessem um significado da palavra assertivo. Se possível exemplos em vários contextos.

Obrigada e continuação de bom trabalho.

Resposta:

Assertivo (de assertar + ivo), adjectivo, quer dizer que tem carácter de asserção (= afirmação); afirmativo. «Surpreendentes e assertivas as declarações do orador.»

Assertiva, substantivo, usado no Brasil: o mesmo que asserção.

E há ainda o substantivo assertividade, «qualidade do que é assertivo»; mas também (termo da psicologia) «conjunto de atitudes e comportamentos que permitem uma pessoa afirmar-se social e profissionalmente sem violar os direitos dos outros».

O disparate do benvindo a fazer de bem-vindo voltou a fazer das suas, agora em forma de cartazes colocados pela Câmara Municipal [prefeitura] de Lisboa dando as boas-vindas aos visitantes do Euro 2004. O que vale é que, desta v...

Pergunta:

Tenho dúvida de como se conjuga o verbo viger. É conjugado na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo? É conjugado como o verbo ter?

Resposta:

Viger (ter vigor ou estar em vigor ou execução; vigorar) é um verbo defectivo, da 2.ª conjugação, que não tem a 1.ª pessoa do presente do indicativo, nem a 1.ª pessoa do pretérito perfeito*, nem a 1.ª pessoa do futuro presente. Tão-pouco se conjuga no presente do conjuntivo (ou subjuntivo). Por não ter, ainda, particípio, não pode ter tempos compostos.

pretérito perfeito: vigeste, vigeu, vigemos, vigestes, vigeram

Pergunta:

Não há dúvida de que «stande» é um anglicismo inominável. Fico contente, pois, por se vir regressando ao «pavilhão». Com o sentido de «loja de automóveis ou motas», porém, já dificilmente dele nos livramos.

Os brasileiros aportuguesaram-no para «estande» e terão feito bem, mas isso foram os brasileiros, não fomos nós. «Estande» não é português europeu. «Stande», embora infelizmente, é português europeu. O Dicionário da Academia seria, simplesmente, desonesto se não o incluísse. José Mário Costa não concorda com a posição da Academia. Diz que «não temos, em português, palavras começadas por "st"». E também diria que não as temos começadas por "sp".

Cá eu, como sportinguista com status e stique, tenho as minhas dúvidas. Penso é que talvez José Mário Costa pudesse evitar o puro insulto de considerar a opção da Academia «no mínimo, uma aberração». Bem sei que José Mário Costa pretenderia dizer que, etimologicamente ou em certos usos científicos, «aberração» não é um insulto, mas o tema não era etimologia nem biologia. Carlos Marinheiro, no artigo para que José Mário Costa remete, tomou uma posição bem mais serena.

E, a propósito, bem se podia notar que o português europeu passou nas últimas décadas a admitir as sequências iniciais «st» e «sp». Isto, sim, um fenómeno interessante. São estrangeirismos fonológicos de origem «culta», por assim dizer, mas que se generalizaram e não podemos ignorar. Em vez de insultar a Academia, talvez fosse preferível, pelo menos, observar estas alterações da nossa língua.

Resposta:

Lastimo, mas não concordo com a discordância do consulente Pedro F. Múrias.

Primeiro, porque é um despropósito acusar-me de ter insultado (era o que me faltava!...) quem quer que seja, ou o que quer que seja. Desde quando o substantivo aberração, neste ou em qualquer outro contexto, é um «insulto»?!

Aberração quer dizer «que se afasta das normas». Se eu tivesse qualificado o anglicismo "stande" de «inominável», como o fez o consulente, acaso teria sido mais apropriado, tendo em conta que «as normas» da língua portuguesa não aceitam palavras começadas por st ou por sp?
Há excepções, como sportinguista (e sportinguismo, já agora...)? Como excepções, porém, à índole da língua portuguesa, é assim que devem ser tratadas. Ou seja: são excepções que só confirmam a regra.

Ora a regra, na língua portuguesa – e esta é a minha segunda discordância de fundo com o consulente Pedro F. Múrias –, manda que todas as palavras iniciadas por st, originárias de outras línguas (a começar pelo latim), se convertam em es.

Meia dúzia de exemplos mais conhecidos: "stadium" deu estádio; "standardize" deu estandardizar e estandardização; "stereo" deu estéreo(fonia, etc.); “stigma” deu estigma; "stylet" deu estilete; e "stylistique" deu estilística.

O mesmo acontece(u) com as palavras, inglesas na sua maioria, iniciadas por sp: "sport" passou a ...

Pergunta:

Será que me poderiam esclarecer acerca da formacão do plural para a palavra "stand"?

Resposta:

A palavra inglesa "stand" faz o plural "stands".

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, propõe o aportuguesamento stande – o que é, no mínimo, uma aberração, pois não temos em português palavras iniciadas por st. É, obviamente, preferível o estande brasileiro (vide dicionário Houaiss), que faz o plural estandes.

A este anglicismo que ele considerava «escusado» na língua portuguesa, Vasco Botelho do Amaral (in Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958) contrapôs os seguintes vernáculos: mostruário, escaparate, exposição; instalação; depósito; mostrador; posto; pavilhão; barraca; tenda; sala de exposição; etc.