José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor
E se pensassem, antes, <br> nos leitores… portugueses?

 

Que a SIC faça gala  em chamar ao seu director-geral Chief Executive Officer (CEO), enfim, faz parte do tecnocratês instalado  num meio  já de si pouco dado ao português mais elementar – como dá para perceber na frase que encima a notícia do "DN" de 3 de Julho de 2008. Mas que dizer do jornal e da jornalista que a redigiu, que nem a tradução se dão ao trabalho de facultar aos seus leitores… portugueses?

Pergunta:

Gostaria de saber qual a maneira correcta de dizer que alguém empresta a voz a uma situação, sem, no entanto, aparecer (na TV; nos documentários; na apresentação de um espectáculo; etc). Não consigo encontrar uma definição para esta situação e embora o corrente seja dizer-se «voz off» a verdade é que alguns defendem que «off» é quando não se está... e a voz está lá, sendo «of» porque pertence a alguém. Será verdadeira esta teoria?

Obrigada.

Resposta:

Voz off — ou voz over, com o mesmo sentido — é uma expressão inglesa sem correspondência no português, usando-se por isso no original. Na definição do Dicionário de Jornalismo, as palavras dos “media”, de Fernando Cascais (ed. Verbo, Lisboa), é o «comentário ou texto dito ou gravado sobre imagens por locutor não visível.» Nesse contexto também se usa simplesmente off: «Denominação dada à voz de pessoa que não é vista no vídeo ou na tela» (in Dicionário de Propaganda e Jornalismo, de Mário Erbolato, ed. Papirus, Campinas, SP) 1

1 Na gíria jornalística, off é o mesmo que off-the-record, ou seja, a informação confidencial fornecida ao jornalista, sob o compromisso de não ser publicada ou, se o for, sem identificação da fonte. Não confundir off, «fora; à distância», advérbio, com of, «de», preposição.

Cf.  Off  the record + A ética e o off the record

Precariedade, precariedade, precariedade – dizia sempre o ministro português do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva. Mas quem o entrevistava, numa manhã destas, no Rádio Clube Português, teimava no "precaridade". E, para que não houvesse dúvidas na diferença, a terminação errada era sempre sublinhada na entoação. O que fará um jornalista – da rádio, ainda por cima – ter um ouvido tão insensível ao disparate?

 

Pergunta:

Gostava que me ajudassem a encontrar expressões populares portuguesas ligadas ao rio.

Resposta:

Há expressões, ditos e provérbios em que está presente o vocábulo rio. Exemplos:

    «Rio de eloquência.»
    «A par do rio, nem vinha, nem olival, nem casa.»
    «A preguiça morreu de sede à beira do rio, com preguiça de beber.»
    «Água de Julho no rio faz barulho.»
    «Atravessa o rio antes de injuriar o crocodilo.»
    «Correm os ribeiros para o rio e os rios para o mar.»
    «De grandes rios, grandes peixes.»
    «De monte a monte, vai o rio.»
    «De rio pequeno não esperes grande peixe.»
    «Deita-te no rio e cobre-te com o manto do teu tio.»
    «Em Abril, o boi bebe no rio.»
    «Em grande rio, passar derradeiro.»
    «Em rio quedo, não metas o dedo.»
    «Em rio sem peixe, não deites a rede.»
    «Mato e rio, Deus mo dê por vizinho.»
    «Não há rio sem vau nem geração sem mau.»
    «Não se pode descer duas vezes a mesma água do rio.»
    «Não sou rio para não tornar atrás.»
    «O que o rio achega, o rio o leva.»
    «O rio corre porque o seu fim é acabar.»
    «O rio é rio na cabaceira.»
    «O rio entre pedrinhas serpenteia.»
    «Os grandes rios fazem-se de pequenos ribeiros.»
    «Os rios correm para o mar.»
    «Para que o ano não vá mal, hão-de os rios encher três vezes entre São Mateus e o Natal.»
    «Quem não torna atrás é rio.»
    «Quem sofre de cãibra não atravessa o rio a nado.»
    «Quem tem abelha, ovelha e moinho no rio entrará com El-Rei ao desafio.»
 ...

Pergunta:

Qual a origem da expressão arco-da-velha?

Resposta:

Dizer «isto é do arco-da-velha» ou «são coisas do arco-da-velha» é o mesmo que dizer que são coisas incríveis, invulgares, mirabolantes. É uma expressão que tem origem no Antigo Testamento, segundo Orlando Neves, no seu Dicionário de Expressões Correntes (Editorial Notícias, Lisboa):

«Fez Jeová um pacto de paz com Noé, quando, depois de findo o Dilúvio, lhe disse: “Este é o sinal da aliança que faço entre mim e vós e todo o animal vivente que está convosco, para perpetuar gerações: o meu arco tenho nas nuvens, e será ele o sinal de uma aliança entre mim e a terra. Quando eu trouxer nuvens sobre a terra e aparecer o arco nas nuvens, então me lembrarei da minha aliança que está entre mim e vós e todo o animal vivente de toda a carne; as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda a carne. O arco estará nas nuvens; olharei para ele, a fim de me lembrar da aliança eterna entre Deus e todo o animal vivente de toda a carne, que estará sobre a terra. Disse Deus a Noé: este é o sinal da aliança que tenho estabelecido entre mim e toda a carne que está sobre a terra” (Génesis, 9.12.17). Assim nasceu, biblicamente, o maravilhoso arco-íris, o arco-celeste, o arco-da-velha. Velha porquê? Porque é descrito no Antigo Testamento, no Velho Testamento, ou seja, na lei velha.»

Já o Dicionário de Provérbios e Curiosidades (Editora Cultrix, São Paulo), do académico brasileiro R. Magal...