Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
Franceses, invasões e expressões idiomáticas
O contacto com a França na história da língua

Neste apontamento a consultora Inês Gama explora algumas das expressões idomáticas que terão surgido na época da invasões dos exércitos napoleónicos em Portugal.

Pergunta:

Qual a diferença entre conjunção e advérbio conectivo?

Resposta:

Segundo o Dicionário Terminológico (DT), uma conjunção consiste numa palavra invariável que introduz orações e constituintes coordenados como em (1), e orações subordinadas completivas e adverbiais como em (2) e (3) respetivamente.

(1) «Eu arrumei o quarto e tu lavaste a louça.»

(2) «Ele disse-me que não ia ao concerto.»

(3) «Quando cheguei, a reunião já tinha terminado.»

Já um advérbio conectivo, de acordo com o DT, tem a função de estabelecer nexos entre frases ou constituintes da frase como, por exemplo, relações de consequências como em (4), de contraste como em (5) ou de ordenação como em (6).

(4) «O João não estudou. Consequentemente, teve má nota no teste.»

(5) «O João não estudou. No entanto, teve uma boa nota no teste.»

(6) «Primeiro, bate-se os ovos, seguidamente acrescenta-se a farinha, finalmente leva-se ao forno.»

Os advérbios conectivos distinguem-se de conjunções com o valor idêntico por poderem ocorrer entre o sujeito e o predicado, como se pode observar pelo contraste em (7)1.

(7) a. «Está frio, mas o João fica na praia.» / «*Está frio. O João, mas, fica na praia.» (mas é uma conjunção.)

      b. «Está frio. Porém, o João fica na praia.» / «Está frio. O João, porém, fica na praia.» (porém é um advérbio conetivo.)

 

1. Exemplos retirados do DT.

O que torna uma palavra ofensiva?
Um apontamento sobre a palavra mulato/(a)

Apontamento da consultora Inês Gama sobre a palavra mulato/(a).

Pergunta:

Navegando pelas versões em inglês da Wikipédia e Wikcionário, encontrei algo sobre a «quarta pessoa gramatical».:

Minha dúvida é: esse conceito, ele poderá ser aplicável em português? Poderemos assumir a existência do termo «quarta pessoa gramatical» em nosso idioma?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

A expressão «quarta pessoa gramatical» é utilizada para descrever um fenómeno gramatical que se verifica em certas línguas como, por exemplo, algumas línguas dos povos aborígenes no Canadá. Este fenómeno consiste sobretudo numa variação da terceira pessoa que serve para designar um elemento com um papel secundário na frase. Este tipo de pessoa gramatical surge em estruturas designadas na literatura por «obviation construction» (em português, numa tradução livre, «construções de obviedade»).

De acordo com Bliss (2017)1 uma «construção de obviedade» tem como função desambiguar a informação referente a várias terceiras pessoas numa frase através da marcação com morfemas típicos deste caso nos pronomes ou nos nomes menos proeminentes para a informação veiculada pela frase.

Segundo informações disponíveis em fóruns de discussão na internet, os pronomes que nestas línguas são marcados com o caso da obviedade equivalem, em inglês, ao pronome indefinido one, em construções como: «One was clean and the other was dirty» (em português, numa tradução livre, «um estava limpo e o outro estava sujo»). Neste sentido, poderemos concluir que em português estes casos podem ser representados pelos pronomes indefinidos ou pelo sujeito nulo.

Note-se que na maioria das línguas indo-europeias, como é o caso do português e do inglês, apenas existem três pessoas gramaticais: a primeira, a se...

Os desafios do ensino do português aos estudantes estrangeiros
Algumas das dificuldades esperadas para o ano letivo 2024/2025

Neste apontamento, a consultora Inês Gama apresenta alguns dos desafios para este novo ano letivo relativos ao ensino da língua portuguesa a estudantes estrangeiros.