Pergunta:
Boa tarde. Na frase seguinte, podemos considerar o advérbio nunca (repetido) com função conetiva? Com valor conetivo?
«É música livre, porque imprevisível, nunca sabemos por onde irá seguir, mas nunca fica perdida, nunca abdica de se ancorar na estrutura.»
Obrigado pelo vosso excelente trabalho.
Resposta:
Na frase apresentada pelo consulente, o advérbio nunca não está a desempenhar uma função conetiva.
De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), os conetores discursivos «são uma classe de marcadores discursivos, que ligam um enunciado a outro enunciado ou uma sequência de enunciados a outra sequência, estabelecendo uma relação semântica e pragmática entre os membros da cadeia discursiva (...), têm a mesma distribuição da classe de palavras a que pertencem e contribuem de modo relevante para a coesão textual, orientando o recetor na interpretação dos enunciados, na construção das inferências, no desenvolvimento dos argumentos e dos contra-argumentos». Neste sentido, na frase apresentada, identifica-se, logo de imediato, dois conetores: porque, com valor explicativo; mas, com valor adversativo.
Note-se que as omissões dos conetores de uma frase não afetam o valor dos nexos estabelecidos, pois este pode ser inferido. Deste modo, identifica-se na frase, entre a segunda e a terceira oração («porque imprevisível, nunca sabemos por onde irá seguir») e a penúltima oração e a última («nunca fica perdida, nunca abdica de se ancorar na estrutura»), uma conexão aditiva e que se recupera por inferência. Estas orações estabelecem entre si uma relação de coordenação, sendo consideradas coordenadas assindéticas, visto nenhuma delas ser introduzida por uma conjunção. Segundo Macário Lopes e Rio-Torto, em Semântica<...