Pergunta:
No brilhante livro Manual de boa escrita; vírgula, crase e palavras compostas, da prof.ª Maria Tereza de Queiroz Piacentini, ela afirma que o mas pode ser usado sem vírgula quando «inicia oração seguida de uma conjunção subordinativa».
Eis uns dos seus exemplos:
«Mas quando me vi sem saber o que comer, bateu o desespero.»
«Os instrumentos iam parando... Mas à medida que as velas se apagavam, outras luzes se acendiam.»
Naturalmente, eu teria usado uma vírgula após o mas em ambos os exemplos por acreditar ser uma intercalação.
Dito isso, venho lhes consultar a esse respeito e aproveito para estender minha dúvida ao mesmo caso em se tratando de outras conjunções como e, então etc. quando iniciam uma oração.
Agradeço desde já.
Resposta:
No livro A vírgula, de Celso Pedro Luft, recomenda-se o uso deste sinal para marcar qualquer intercalação (p. 22, 32, 77); diz o autor que tal emprego é «uma pontuação racional»; em tom crítico, declara que «nem sempre os escritores usam essa vírgula, sobretudo quando pontuam mais pelo ouvido que pela sintaxe» (p. 41).
No Guia prático do português correto, volume 4 (Pontuação), o professor Cláudio Moreno ensina o mesmo sobre as vírgulas separando obrigatoriamente a intercalação.
Sob o verbete mas, o gramático Evanildo Bechara pontua o mesmo em seu livro Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa.
Ainda que não tratem diretamente desse fato, a própria redação dos gramáticos Celso Cunha, Rocha Lima, Domingos P. Cegalla, em suas gramáticas, aponta integralmente para a mesma regra delineada por Celso Pedro Luft.
Logo, os instrumentos normativos consultados indicam que deve haver vírgula quando a uma conjunção coordenativa segue uma intercalação (em forma de termo, expressão, oração), como em «Mas, quando me vi sem saber o que comer, bateu o desespero».
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