Fernando Pestana - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Fernando Pestana
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Fernando Pestana é um gramático e professor de Língua Portuguesa formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre em Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Atua há duas décadas no ensino de gramática voltado para concursos públicos e, atualmente, em um curso de formação para professores de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Na frase «Mais de uma mulher foi eleita para a câmara», qual a função sintática da palavra mais?

Qual o núcleo do sujeito da oração?

Obrigado.

Resposta:

A expressão «mais de», por ter a mesma configuração de «abaixo de, através de, longe de, defronte de, perto de, cerca de, menos de», se encaixa (consoante a gramática tradicional) no conjunto das locuções prepositivas, as quais são assim chamadas por serem constituídas de um grupo de palavras que, terminadas em preposição, funciona como uma preposição dentro do arranjo morfossintático da língua.

Logo, assim como as preposições não exercem função sintática na frase, as locuções prepositivas também não.

Em «Mais de uma mulher foi eleita...», o sujeito é «Mais de uma mulher», cujo núcleo é o substantivo mulher. Trata-se dum sujeito simples*.

Sempre às ordens!

 

*Por ser brasileiro o consulente, foi usada na resposta a terminologia gramatical brasileira.

Pergunta:

Leio constantemente a construção do tipo «Não vejo problema em discutir o tema, não» ou simplesmente «Não há problema nisso, não».

Mas qual seria a justificativa para a vírgula antes do segundo não?

Grato!

Resposta:

Encontra-se a resposta na página 414 da Gramática da Língua Portuguesa Padrão, de Amini Boainain Hauy. Diz a autora: «Virgulam-se os advérbios sim e não quando empregados para responder a uma pergunta, confirmar ou enfatizar uma ideia.»
 
Assim, a vírgula é obrigatória em frases como as trazidas pelo consulente («Não vejo problema em discutir o tema, não»; «Não há problema nisso, não»), pois seu papel é marcar a ênfase do advérbio duplicado na frase.
 
Sempre às ordens!

Pergunta:

Sobre a frase «Ainda existem muitas doenças sexualmente transmissíveis», a classe gramatical de sexualmente é advérbio de meio?

Qual a função sintática de sexualmente, já que a referida palavra está inserida dentro de um sujeito «muitas doenças sexualmente transmissíveis»?

Resposta:

A palavra sexualmente, no contexto em que está inserida, é morfologicamente classificada como advérbio. 

O valor semântico contextual é de meio, pois, se as doenças são sexualmente transmissíveis, isso implica dizer que o sexo é o meio pelo qual as doenças são passíveis de ser transmitidas.

Quanto ao fato de pertencer ao sujeito da frase «ainda existem muitas doenças sexualmente transmissíveis», isso não altera sua classificação morfológica nem sintática. Afinal, a única palavra que modifica um adjetivo (na frase em questão, «transmissíveis») é um advérbio (na frase em questão, sexualmente), cuja função sintática* é a de adjunto adverbial. Importa sublinhar que um adjunto adverbial nem sempre faz parte do predicado, podendo também estar presente dentro do sujeito.

Sempre às ordens!

*Visto ser brasileiro o consulente, foi usada na resposta a nomenclatura gramatical brasileira.

Pergunta:

Pelo que tenho visto, a regência do verbo importar-se é diferente no português do Brasil e no português de Portugal.

Em Portugal, o verbo deve ser sucedido da preposição de antes de indicar o verbo que o complementa, certo?

Exemplo: «Ele não se importa de ir à estação de comboios.»

Mas e quando não há sucessão de verbo? Por exemplo: «ele não se importa da menina».

Não seria correto trocar o de pelo «com a»? Ex.: «ele não se importa com a menina».

Resposta:

De acordo com os dicionários de regência verbal de Francisco Fernandes e Celso Pedro Luft, usa-se «importar-se com/de + nome» – é importante registrar que esses dicionários são baseados majoritariamente em linguagem literária dos séculos 19 e 20. Segundo o dicionário de regência verbal de Francisco da Silva Borba, só se registra «importar-se com + nome» – este dicionário se vale não só da linguagem literária, mas também das linguagens acadêmica e jornalística.

Em pesquisa ao Corpus do Português, foi encontrada apenas uma ocorrência com a preposição de, em linguagem literária do século 19. Em linguagem jornalística contemporânea luso-brasileira, só se encontrou «importar-se com + nome» (em centenas de ocorrências).

O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa também só registra «importar-se com + nome».

Desse modo, visto que o uso determina a norma, os indicadores apontam para a variante «importar-se com + nome» como a única regência da norma atual.

 

Sempre às ordens!

Pergunta:

Por favor, quais gêneros são considerados gêneros digitais?

Grato.

Resposta:

Segundo o Dicionário de gêneros textuais, de Sérgio Roberto Costa, eis os gêneros digitais: aula chat, banner, blog, chat, e-mail, fotoblog, post, fórum eletrônico, ciberconferência, weblog, etc.

Analisando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), foram rastreados os seguintes gêneros digitais (diferentes dos já elencados acima): gif, meme, fanfic, vlog, fanzine, playlist, tweets, e-zine, charge digital, fanvideos, etc.

Em outras palavras, todo modelo de texto (escrito, audiovisual, multimodal) que se apresenta no universo virtual/eletrônico é um gênero digital.

Sempre às ordens!