Pergunta:
Não há consenso perfeito entre os gramáticos de nosso idioma (e de idioma algum, creio eu). Há, por exemplo, certo debate quando ao plural de certos substantivos compostos. A minha dúvida é a seguinte: como devemos proceder em tais casos?
Há matérias em que basta recorrer ao parecer do autor com mais autoridade para saber a posição correta (ou ao menos mais segura), mas me parece dificílimo definir qual dos entendidos mais célebres de nosso idioma (Napoleão Mendes de Almeida, Celso Cunha, Rocha Lima, Cegalla, Manuel Said Ali, Bechara etc.) possui maior autoridade. Basta aderirmos ao julgamento do autor de nossa preferência? Ou pode ocorrer deste ou daquele gramático ter uma posição errada? E caso possa haver equívoco por parte de um autor, como podemos saber quem está correto?
Obrigado.
Resposta:
O papel dos gramáticos normativos é descrever (e normatizar) um modelo de uso supradialetal (a norma-padrão) a ser empregado em situações mais formais de comunicação, a fim de padronizar a língua tomada como culta, aquela de prestígio social. Os dicionaristas colaboram para isso também.
Quando se deseja extrair um padrão a partir das divergências normativas entre renomados estudiosos, é preciso verificar (1) qual é a visão majoritária entre eles (que não necessariamente pode ser única, pois a norma-padrão comporta formas variantes entre si) e (2) como se vêm usando as formas linguísticas contemporaneamente.
Para o ponto (1), é preciso cotejar o que ensinam os gramáticos e dicionaristas, para daí extrair a visão majoritária. No caso do estudo do léxico ou da ortografia, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Academia Brasileira de Letras (ABL), também entra em cena, sobretudo como argumento de maior peso.
Para o ponto (2), é preciso verificar em textos escritos pelos melhores escritores do idioma, que são, em geral, considerados pela sociedade como os nossos literatos, ensaístas, articulistas de reconhecida qualidade escrita entre os seus pares e entre os leitores qualificados. Se se deseja conhecer a norma culta lusitana ou a norma culta brasileira, é preciso investigar a fundo como os escritores lusitanos ou brasileiros têm usado a língua (escrita) ao longo do tempo — com foco maior na norma contemporânea, para não se incorrer em anacronismo.
O ponto (2) costuma estar de acordo com a visão majoritária do ponto (1), pois existe uma premissa que governa as decisões dos estudiosos e normatizadores da língua: o uso determina a norma, por isso os gramáticos e dicionaristas vão colher nos usos linguísticos frequentes nos melhores escritores aquilo que definem ...