Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Será indefensível, ou indefensável?

Resposta:

Há três formas atestadas pelos dicionários e pelos vocabulários ortográficos — os adjetivos indefendível (de in- + defendível), indefensável (de in- + defensável) e indefensível (de in- + defensível) — para designar «que não se pode defender; que não tem defesa possível», sendo por isso sinónimas.

Fontes: Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004 e 20010; Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001; Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC; Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora.

Pergunta:

Qual a abreviatura de Dona?

Resposta:

O substantivo e forma de tratamento dona tem como abreviaturas mais correntes as formas D. e D.ª.

Segundo os gramáticos Celso Cunha e Lindely Cintra, a forma de tratamento Dona «também [é] abreviada em D.» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 295). Esta é também a abreviatura registada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, que também admite as formas d. e D.ª.

Assinale-se também Da., abreviatura proposta pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora. No entanto, esta forma não é de recomendar e é talvez seja um lapso, em lugar de D.ª. Note-se, aliás, que a referida editora usa apenas a forma D. em alguns dos seus dicionários bilingues, por exemplo, no Dicionário Português-Inglês.

Pergunta:

«Preparação prévia» é redundância?

Resposta:

Toda a preparação de qualquer acontecimento implica, naturalmente, um ato que ocorre antes do acontecimento, em que se estrutura a organização e os preparativos que tornam possível essa ocorrência.

Por sua vez, o adjetivo prévio(a) designa «dito ou feito antecipadamente; antecipado; preliminar» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2004).

Portanto, não parece haver dúvida de que a expressão «preparação prévia» seja uma redundância, pois os dois termos encerram a ideia de antecipação, de anterioridade.

No entanto, não podemos deixar de assinalar que o emprego dessa expressão num determinado discurso transparece a necessidade do seu emissor em evidenciar o cuidado e a preocupação (marcas de responsabilização e de profissionalismo) que houve em não fazer tudo à pressa, de modo a prever atempadamente todas as circunstâncias possíveis. Como todos sabemos, há casos em que a preparação de qualquer evento é feita quase “em cima do acontecimento”, realidade que pouco corresponde à sua caraterização como prévia.1

Nota: Repare-se que as duas palavras — preparação (do latim preparatiōne-, “preparação”) e prévio (do latim praevĭu-, “que vem adiante”) — têm em comum o elemento pre- (do latim prae-, “pre ou pré”), «que exprime a ideia de anterioridade (no tempo e no espaço)» (cf. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado).

 

1 Não é de excluir a influência da locução verbal inglesa «to plan ahead» (sugestão do consultor Luciano Eduardo de Oliveira), que também é encarada como semanticamente redundante, embora justificá...

Pergunta:

Meu pai vive discutindo comigo quando pronuncio coloca ao invés de dizer coloque, como, por exemplo, em «Pai, coloca lá pra mim», mas ele diz que é falta de respeito falar assim. Para ele, o correto é dizer «Pai, coloque lá pra mim».

Gostaria de saber qual é o certo.

Resposta:

Quando diz «Pai, coloca lá pra mim», está a usar a forma de tratamento de 2.ª pessoa — tu — para com o seu pai, forma esta que, segundo os gramáticos Cunha e Cintra, «tende a ultrapassar os limites da intimidade propriamente dita, em consonância com uma intenção igualitária ou, simplesmente, aproximativa» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 293).

Por sua vez, o emprego de coloque — «Pai, coloque lá pra mim» — evidencia a preferência pela forma de tratamento de senhor, «forma de respeito e de cortesia e, como tal, se opõe a tu» (idem, p. 294).

Pergunta:

No vocábulo poesia, é assim que as sílabas são separadas: po-e-si-a?

Quanto à acentuação, classifica-se como grave. Certo?

Bem haja pela resposta.

Resposta:

De facto, a palavra poesia tem quatro sílabas, e a sua divisão é feita da forma como indica — po-e-si-a (cf. Dicionário da divisão silábica) —, recaindo o acento tónico na penúltima sílaba (assinalada pelo sublinhado), razão pela qual é uma palavra grave ou paroxítona.

Nota: Como a última sílaba da palavra é constituída unicamente por uma vogal, importa assinalar que, em caso de translineação, as vogais não devem ficar sozinhas (no início ou no final de uma linha). Assim, em caso de mudança de linha, deverá ficar da seguinte forma:

poe-
sia