D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Antes de tudo, minhas cordiais saudações aos amigos do Ciberdúvidas.

Tenho uma dúvida com respeito ao gênero/género das palavras boa-tarde e boa-noite.

Tenho a impressão de durante toda a minha vida ter ouvido frases como a seguinte «Mário chegou, deu um caloroso boa-tarde e logo partiu», ou seja, com emprego do gênero/género masculino. Ao ler esta resposta de D´Silvas Filho, pus-me um tanto confuso, pois ele, para minha surpresa, escreveu «a boa-tarde» e «a boa-noite» como nome para essas saudações. Nunca me passaria pelo sentido usar o gênero/género femino nesse caso. Consultei o Houaiss eletrônico que me deu:

«— substantivo masculino

1 cumprimento que se dirige a alguém à tarde; boas-tardes

Obs.: cf. boa tarde "tarde boa, agradável"»

Também há uma entrada para o mesmo vocábulo com o gênero/género feminino, mas diz respeito apenas a algumas espécies de plantas que não citarei aqui.

Não haverá sido um pequeno equívoco por sua parte?

Muito agradeço.

 

Resposta:

A versatilidade da língua permite que muitas vezes haja várias opiniões sobre o mesmo assunto.

Embora sem grande entusiasmo, não me repugna considerar masculino o substantivo boa-tarde. Aceito que seja essa a classificação para o Houaiss.

Quando não estou seguro, porém, costumo socorrer-me do Vocabulário de Rebelo Gonçalves. Ora nele está registada, na entrada boa-tarde, a expressão «dar as boas-tardes».

Por outro lado, Rebelo Gonçalves distingue ainda o substantivo boa-tarde do cumprimento (sem hífen) que se dirige a alguém: Boa tarde! (ora um cumprimento pode neste caso considerar-se do género masculino, sim).

Saúdo particularmente o Sr. Silva Filho, com um nome, que presumo real, semelhante ao meu pseudónimo. Sublinho, porém, que, como autor textual, sou um heterónimo com um nome construído (oficialmente registado), sem qualquer relação com uma eventual família Silva Filho ou Silvas Filho, que respeito e não comprometo com os meus pareceres.

Novo acordo

Termos para Portugal ou Brasil: Sem alteração

 

Cf. Boas festas ou boas-festas?

 

 

Ao seu dispor,

Pergunta:

Por favor, gostaria muito que esclarecessem quais seriam as entidades científicas ou normalizadoras de que trata a observação contida na base XIX do novo acordo ortográfico («As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica. geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente»). Poderiam ser, por exemplo, a Ordem dos Advogados do Brasil, no que se refere ao Direito, ou o Conselho Federal de Medicina, no que diz respeito à Medicina?

Poderia ocorrer que uma entidade brasileira estabelecesse uma regra diversa da estabelecida por entidade portuguesa?

Muito obrigado.

Resposta:

A obs. final da Base XIX do novo acordo é completada com a Base XXI, que prescreve:

«Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que por costume ou registo legal adopte na assinatura do seu nome. Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registos públicos.»

Qualquer das entidades que indica pode ter termos oficialmente registados.

É conveniente na unidade da língua, mas não obrigatório, que Portugal e Brasil adoptem as mesmas variantes (é para permitir a diferença que existem as duplas grafias).

Se houver uma entidade conjunta normalizadora, os termos técnicos e científicos também poderão ter alguma unidade. Aliás, isto está previsto no Preâmbulo do acordo de 1990, com a exigência de um Vocabulário Comum, normalizador nos termos em questão.

Novo acordo

Termos para Portugal: adote/m

Para o Brasil: sem alteração

NOTA: as duplas grafias não implicam alterações obrigatórias na escrita.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Daquelas que conheço, concordo entusiasticamente com todas as posições de D´Silvas Filho, excepto aquela de "elefanta" e "presidenta" (Prontuário, 3.ª ed., p. 125 e 143.). Por que não "estudanta", "utenta", "pedinta" e "transeunta"?

Resposta:

Muito obrigado pelo seu apreço pelas minhas posições.

Quanto às objecções, está no seu direito. Lembro, porém:

Elefanta está taxativamente registada no Vocabulário de Rebelo Gonçalves, na entrada elefante.

Presidenta é o género defendido por linguistas, atendendo aos novos tempos de acesso das senhoras a cargos que sempre foram masculinos. Enquadra-se no critério de considerar sempre o género feminino quando possível (ex.: ministra, juíza, médica, etc.), exigido hoje por muitas senhoras.

É verdade, porém, que as palavras terminadas em e, como utente, pedinte, transeunte, herege, estudante, valente (ou ista, como cançonetista) normalmente representam adjectivos uniformes ou nomes comuns de dois. Estudante e presidente estão assim classificadas nos dicionários; logo está correcto escrever-se «ela é a estudante», «a presidente», etc. (ex.: «esta estudante é a presidente da Associação»).

Há casos mesmo em que a minha sensibilidade na língua me leva a pensar que mudar um género a um cargo muito importante lhe pode tirar dignidade. Daí que numa

Pergunta:

As palavras guarda-chuva, ensinou-se e retirá-lo-á, como se classificam quanto ao número de sílabas e acentuação?

Obrigada.

 

Resposta:

Segue-se a classificação das palavras apresentadas quanto ao número de sílabas e à acentuação:

Guarda-chuva — dois dissílabos graves; palavra composta foneticamente grave.

Ensinou-se — trissílabo agudo ensinou, pronome pessoal se, palavra composta foneticamente grave.

Retirá-lo-á — o trissílabo gramatical agudo retirá, derivado da palavra aguda retirar; pronome pessoal oblíquo lo; monossílabo gramatical á, derivado da forma verbal (verbo haver); palavra composta foneticamente aguda.

Termos do novo acordo em Portugal: sem alteração.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Escreve aqui o sr. D´Silvas Filho: «Incompreensível agora, pois, com embalagem na corajosa revolução de 1911 na língua, Portugal em 1931 já tinha feito um Acordo escrito com o Brasil no objectivo de se acabar com as consoantes não articuladas. Só que depois Portugal não cumpriu com essa combinação em 1945, em plena era dos nacionalismos salazaristas (que, se excessivos, deixam a dúvida de não serem hoje os mesmos) e da ufania do império colonial.»

A que acordo se refere D´Silvas Filho? Tenho lido tudo o que está disponível sobre a cronologia das reformas da língua efectuadas por portugueses e brasileiros, e nunca vi referência nem a esta data nem a este acordo. O que vi referido, isso sim, foi que o Brasil acordou na reforma de 1945 (não lhe foi imposta portanto, nem poderia), mas que depois acabou por não ratificar o acordo nem implementar a dita reforma, pelo que esta apenas se aplicou em Portugal. E a justificação foi precisamente a da alteração das palavras cujas consoantes eles haviam eliminado (sem acordar com ninguém previamente). A que acordo se refere, pois, D´Silvas Filho? Onde posso consultar esse acordo?

Resposta:

Respondo simultaneamente às duas questões que apresentou, citando o meu nome.

O Acordo de 1931 foi um documento elaborado pela Academia Brasileira de Letras e aprovado pela Academia das Ciências de Lisboa. Se consultar os arquivos da nossa Academia, certamente encontrará o documento. Nele escrevia-se que se eliminariam na língua «As consoantes mudas». O acordo entre as duas academias não avançou oficialmente em Portugal.

O texto não tinha um vocabulário pormenorizado, mas justamente apresentava a palavra `cetro´, a que faz referência na sua objecção, como exemplo desta eliminação.

O acordo de 1945 (Base VI, 2.º) registou já, diferentemente, ceptro. A justificação foi a abertura da vogal anterior ou a história das palavras (o novo acordo transige em aceitar a dupla grafia ceptro/cetro, embora ceptro não exista para o Brasil e a pronúncia recomendada para Portugal seja ¦cetro¦).

Verdadeiramente só a segunda justificação da norma de 1945 era significativa para a generalidade das palavras, pois a primeira justificação ficava sem sentido quando a mesma norma autorizava que as homógrafas heterofónicas não tivessem acento diferencial (ex.: molhos ¦ó/ô¦ [com o qual também se podem elaborar textos ambíguos, como fez com corretor…]).

Por sua vez, o acordo de 1945 não avançou no Brasil.

Esta resposta enquadra-se ainda nos "contra-argumentos" aos opositores do acordo; o que tomei a decisão de deixar de fazer, pois são agora ociosos, depois da aprovação do II Protocolo, quase por unanimidade, pelo nosso