D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Caros amigos do Ciberdúvidas, gostaria de uma explicação quanto às regras de acentuação para o plural de palavras como dólmen, sêmen, lúmen, éden, hífen, gérmen, abdômen, etc.

Por favor, considerem o meu pedido de explicação relativo ao plural terminado em ns, e não em nes.

A minha dúvida surgiu quando, no dicionário eletrônico Houaiss, encontrei o plural germens em contraste com "sêmens"; cólons em contraste com "abdonens".

Tenham os meus sinceros agradecimentos.

Resposta:

As normas determinam que as palavras graves terminadas em ens não são acentuadas (exemplos na alínea a do 2.º da Base IX do Acordo de 1990).

Assim, para o Brasil é: dolmens, semens, lumens, edens, hifens, germens, abdomens, palavras graves. Para Portugal é: dólmenes, sémenes, lúmenes, édenes, hífenes, gérmenes, porque são palavras esdrúxulas.

Não é o caso do plural de cólon, que tem sempre acento: cólons/cólones.

Quanto ao que diz ter encontrado no Houaiss, para o Brasil está bem germens e cólons, mas deve ser semens e abdomens.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Gostaria de saber se, de acordo com a nova regra ortográfica, os nomes Raíssa e Larissa serão acentuados e porquê.

Resposta:

Raíssa é uma palavra que, sem acento, teria o ditongo [aj] e se leria ¦ráissa¦.

Segundo a Base X do Acordo de 1990, a vogal tónica das paroxítonas leva acento agudo quando antecedida de uma vogal com a qual não forma ditongo e desde que não constitua sílaba com a consoante seguinte.

Assim, como na pronúncia ¦a-i¦ não existe ditongo, a vogal i tem de ser acentuada.

Larissa é diferente. Não tem ditongo possível. Por outro lado, como é terminada em a e tem pronúncia de palavra paroxítona, não precisa de acento no i.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Tenho seguido com verdadeira paixão a questão do dito «Acordo» Ortográfico. Confesso que, desde o início, tenho sido manifestamente contra tal espécie de tratado, mas procurei conhecê-lo mais a fundo e encontrei aqui o documento na íntegra, que acabei de ler. Devo confessar que me deixou muito esclarecido mas que me levantou dúvidas. Assim sendo, coloco-vos algumas perguntas que peço que me sejam respondidas, pois, como já disse noutras ocasiões, sou quase um ignorante na matéria.

1. Há tantas possibilidades de opção apresentadas para a escrita. Dadas as circunstâncias, não se poderá continuar a escrever de modo exactamente igual ao que já se escreve agora depois de entrar em vigor este «acordo»?

2. Se sim, então qual o porquê do «acordo»?

3. Não será criar uma confusão desnecessária e inexistente hoje permitir uma série de facultatividades ortográficas quando uma palavra se diz de um só modo? Lembro que na redacção de 1945 as facultatividades resultavam da existência de várias formas orais, ao contrário do que se verifica agora.

4. Discordo de todo com a alínea b do ponto 1 da Base IV. Entendo que, se as consoantes lá estão, por qualquer motivo é, e passo a explicar. Na maior parte dos exemplos dados, as consoantes a suprimir são mudas, mas não em algumas palavras derivadas delas (óptimo com optimizar, entre outros). Estas letras pronunciam-se na linguagem corrente e em contexto erudito em certos casos, mas noutros servem para abrir a consoante que a antecede. Então e agora? Escreve-se nuns casos e não noutros?

Respondo ponto por ponto às suas perguntas. Aproveito para esclarecer dúvidas noutros consulentes e para sublinhar algumas das minhas posições sobre o novo acordo ortográfico (AO):

1. Em muitas palavras não há alterações. Na secção «Linguística > Problemas ortográficos de www.dsilvasfilho.com pode verificar-se que a grafia da quase generalidade das palavras actuais não muda mesmo nada.

Só algumas palavras mudam. Por exemplo, não vamos continuar a poder escrever acção, óptimo, etc.; os brasileiros não vão poder continuar a escrever: idéia, freqüente, etc. Sublinha-se que estas palavras que mudam são de uso frequente, mas que não aparecem em quantidade num texto corrente.

2. O acordo foi necessário para oficializar as variantes da lusofonia numa língua universal e depois conseguir cedências para reduzir as diferenças ao mínimo.

3. As duplas grafias existem só nos casos em que há variantes diferentes em uso nos países. Nós dizemos e escrevemos facto, logo tem de haver uma variante para os brasileiros, que dizem e escrevem fato, com o mesmo significado.

4. Nalguns casos, concordo consigo. Corrector (de corrigir) não deveria perder o c para não se confundir com corretor («intermediário»); óptica («visão») não deve perder o p para não se confundir com ótica («audição»). A ideia dos autores da norma foi estabelecer uma regra geral, atendendo a que temos também diversos homógrafos heterofónicos, com significados diferentes: ex.: colher (substantivo) e c...

Artigo disponível na página pessoal do autor, onde volta a insurgir-se contra a "apressada" entrada em vigor do Acordo Ortográfico, em Portugal.

 

Estava previsto que haveria uma reunião de especialistas dos países signatários do Acordo de 1990<...

Pergunta:

Minhas saudações a todos vós.

Sou estudante e tenho quinze anos, minha família é origem portuguesa e por isso em nosso quotidiano observo que certas pronúncias de alguns vocábulos ficam preservadas intactas, como o facto e académico; vejo-me obrigado a manter aquela ortografia seca daqui de meu país. Sendo assim gostaria de saber de vossas senhorias se este Acordo Ortográfico, em suas duplas grafias, abriria espaço para, em casos permitidos, eu adoptar a norma lusitânica de que tanto me orgulho. É sabido de todos a grande carnificina, mutilação e massacre a que a norma lusa terá que submeter-se quando vier a aceitar tais regras... Mas ao ler acerca do assunto vi que nalguns casos terei a facultatividade de escolher entre algumas formas... Desta maneira até que ponto eu poderei aproximar-me da tão benquista norma lusitana? Em que casos poderia eu utilizar o que sobrou das consoantes que foram injustificalmente abolidas aqui em meu país; utilizando-me das duplas grafias? No caso de palavras como óptimo, afecto, eléctrico, comummente, connosco, eu poderia utilizá-las em meu quotidiano? Mais especificamenta a palavras como óptimo e húmido num dicionário chamado Mordebe elas continuam intactas, mas noutras fontes observei que segundo elas estas consoantes sairiam e deixariam de ser grafadas, o que contraria o dicionário supracitado. Afinal ela...

Resposta:

A sua mensagem deu-me muito prazer. É uma lição de amor juvenil pela língua lusa. Conforto para os governantes portugueses que também a estimam, vergonha para alguns políticos mais interessados em questiúnculas ideológicas ou partidárias que nos valores nacionais.

Vou responder em pormenor às suas dúvidas:

1 — O novo Acordo Ortográfico (AO) abre efe{#c|}tivamente espaço para que seja possível cada um usar a variante da língua portuguesa que entender; mas só quando essa variante for legítima em toda a lusofonia.

Repare que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da sua ilustre Academia Brasileira de Letras (ABL), referente ao português do Brasil (PB), não contempla muitas variantes usuais em Portugal, como os nossos: húmido e família, comummente, connosco, as proparoxítonas com tónica ém/én, óm/én, etc., etc. A grafia oficial do Brasil é a que está no VOLP PB: úmido e família, conosco, êm/ên, ôm/ôn nas proparoxítonas.

Da mesma maneira, quando for publicado o nosso VOLP para o português europeu (PE), ficará claro que em Portugal temos variantes que nos são próprias.

Em resumo, o novo AO pretende unir a língua, ...