Pergunta:
Tenho seguido com verdadeira paixão a questão do dito «Acordo» Ortográfico. Confesso que, desde o início, tenho sido manifestamente contra tal espécie de tratado, mas procurei conhecê-lo mais a fundo e encontrei aqui o documento na íntegra, que acabei de ler. Devo confessar que me deixou muito esclarecido mas que me levantou dúvidas. Assim sendo, coloco-vos algumas perguntas que peço que me sejam respondidas, pois, como já disse noutras ocasiões, sou quase um ignorante na matéria.
1. Há tantas possibilidades de opção apresentadas para a escrita. Dadas as circunstâncias, não se poderá continuar a escrever de modo exactamente igual ao que já se escreve agora depois de entrar em vigor este «acordo»?
2. Se sim, então qual o porquê do «acordo»?
3. Não será criar uma confusão desnecessária e inexistente hoje permitir uma série de facultatividades ortográficas quando uma palavra se diz de um só modo? Lembro que na redacção de 1945 as facultatividades resultavam da existência de várias formas orais, ao contrário do que se verifica agora.
4. Discordo de todo com a alínea b do ponto 1 da Base IV. Entendo que, se as consoantes lá estão, por qualquer motivo é, e passo a explicar. Na maior parte dos exemplos dados, as consoantes a suprimir são mudas, mas não em algumas palavras derivadas delas (óptimo com optimizar, entre outros). Estas letras pronunciam-se na linguagem corrente e em contexto erudito em certos casos, mas noutros servem para abrir a consoante que a antecede. Então e agora? Escreve-se nuns casos e não noutros?
Respondo ponto por ponto às suas perguntas. Aproveito para esclarecer dúvidas noutros consulentes e para sublinhar algumas das minhas posições sobre o novo acordo ortográfico (AO):
1. Em muitas palavras não há alterações. Na secção «Linguística > Problemas ortográficos de www.dsilvasfilho.com pode verificar-se que a grafia da quase generalidade das palavras actuais não muda mesmo nada.
Só algumas palavras mudam. Por exemplo, não vamos continuar a poder escrever acção, óptimo, etc.; os brasileiros não vão poder continuar a escrever: idéia, freqüente, etc. Sublinha-se que estas palavras que mudam são de uso frequente, mas que não aparecem em quantidade num texto corrente.
2. O acordo foi necessário para oficializar as variantes da lusofonia numa língua universal e depois conseguir cedências para reduzir as diferenças ao mínimo.
3. As duplas grafias existem só nos casos em que há variantes diferentes em uso nos países. Nós dizemos e escrevemos facto, logo tem de haver uma variante para os brasileiros, que dizem e escrevem fato, com o mesmo significado.
4. Nalguns casos, concordo consigo. Corrector (de corrigir) não deveria perder o c para não se confundir com corretor («intermediário»); óptica («visão») não deve perder o p para não se confundir com ótica («audição»). A ideia dos autores da norma foi estabelecer uma regra geral, atendendo a que temos também diversos homógrafos heterofónicos, com significados diferentes: ex.: colher (substantivo) e c...