Conceição Saraiva - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Conceição Saraiva
Conceição Saraiva
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Licenciada e Mestre em Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professora de PLE no Departamento de Língua e Cultura Portuguesa da FLUL. Formadora certificada pelo IEFP.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como se analisa morfologicamente «tem-lhe ganho»?

Resposta:

«Tem-lhe ganho», morfologicamente, analisa-se da forma seguinte:

1.Tem — verbo ter, na 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo.

2.lhe- pronome pessoal, complemento indirecto.

3. — Particípio passado do verbo ganhar que, com o verbo ter, deve ser usado na forma regular — ganhado: tem-lhe ganhado.

De acordo com a regra geral coloca-se o pronome pessoal oblíquo lhe depois do verbo (ênclise).

Outros exemplos: «tem-lhe entregado os apontamentos»; «Tem-lhe dito a verdade»

Pergunta:

Gostava que me pudesse ajudar para o caso de no final da linha poder translinear correctamente as seguintes palavras: consolação, juízo, fechado e dissesse!

Obrigada pela atenção dispensada.



Resposta:

A divisão silábica e a translineação estão intimamente ligadas. No entanto, temos de respeitar algumas regras.

Nos exemplos que apresenta, a translineação é feita da forma seguinte:

1. Consolação — con-so-lação: a consoante n não está seguida de vogal; logo, permanece unida à sílaba que a precede.

2. Juízo — juí-zo: do ponto de vista da partição silábica, as vogais que não formam ditongo podem separar-se, desde que não fiquem isoladas, pelo que «ju-ízo» pareceria possível, a par de «juí-zo» (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, págs. 68/69); mas a prática tipográfica é não separar vogais, e daí preferir-se «juí-zo».

3. Fechado — fe-cha-do: «ch», apesar de serem duas letras (dígrafo), representam um único som.

4. Dissesse — dis-ses-se: os grupos formados por duas consoantes iguais separam-se sempre, tal como as vogais de hiatos, como, por exemplo: compre-ender, sendo esta última separação não praticada tipograficamente.

Pergunta:

Se "ateimar", "abaixar" e "assentar" são variantes aceites de teimar, baixar e sentar, respectivamente, será que o mesmo sucede com "amandar"? Se não, porquê?

Resposta:

"Amandar" não existe, de facto, como variante do verbo mandar, ao contrário do que acontece com todos os verbos que menciona.

No entanto, ouve-se com frequência essa forma em vez de mandar. O motivo desta grande frequência ocorre, a meu ver, por analogia com essas variantes — ateimar, alevantar —, e talvez porque o prefixo a- imprime reforço, intensificação ao sentido do verbo original. Provavelmente é essa a intenção dos falantes que fazem o seu uso; "amandar" com efeito intensificador de movimento: «"Amanda" a bola/manda a bolaJá não me parece tão usual quando não expressa movimento, como por exemplo: «Manda postais, que eu faço coleção!»

Em conclusão, "amandar" não está atestado na língua, como variante de mandar, e não é aceite pela atual norma. Mas é minha convicção de que o uso da língua se encarregará, em breve, de o registar, por isso poderemos, um dia, encontrá-lo nos dicionários à semelhança dos verbos que apresenta.

Pergunta:

Gostaria de ser informada quanto à diferença entre «agente do estado» e «funcionário público».

Resposta:

«Funcionário público» é aquele que trabalha num serviço público. Trata-se de um agente administrativo que está sujeito a regime jurídico. É também aquele que trabalha por conta de outrem e exerce um cargo permanente e remunerado.

Agente do Estado é aquele que representa o Estado num determinado cargo. É um emissário, pessoa de confiança de um governo, que se encarrega de missões relativas ao Estado, numa negociação, ou numa missão particular.