Pergunta:
Sou professor de Português e tenho uma dúvida, associada a alguma confusão, desde há muito tempo, para a qual peço a vossa prestimosa ajuda.
Situando a minha questão e, consequentemente, a vossa resposta num contexto pedagógico, no caso concreto, na aula de Língua Portuguesa/Português, gostaria que me explicitassem/esclarecessem, fundamentadamente e com exemplos concretos (recorrendo se possível a teóricos das ciências da educação), os conceitos de competência e objectivo, a relação que entre eles se estabelece, designadamente numa planificação da disciplina, a eventual anulação de objectivo pela competência, em que contextos se pode utilizar um e não o outro ou então como se podem conjugar ambos. Estas são algumas das dúvidas para as quais peço, encarecidamente, uma resposta muito clara. Tudo isto surge do facto de perpassar a ideia (desde que o termo competência «tomou conta» das planificações) de que numa planificação/programação foram banidos definitivamente os objectivos, sendo substituídos pelas competências. Na minha opinião, são "coisas" diferentes, ainda que inter-relacionadas, com espaços e tempos próprios. No entanto, prefiro não me adiantar mais...
Aguardo a vossa resposta.
Resposta:
Como o consulente poderá compreender, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa é sobretudo um consultório de dúvidas sobre a língua portuguesa. Não pode, por isso, dar pareceres sobre conceitos e termos de determinado domínio científico. O mais que podemos fazer é aflorar a definição dos termos em causa. Assim, direi, de modo muito sintético, que o conceito de objectivo surgiu no discurso pedagógico e na política de educação em Portugal, pelo menos, nos anos 70 do século passado. Provém da chamada pedagogia por objectivos, que é definida por Olga Pombo (in Logos. 1. 1984, pág. 47-72, disponível no endereço http://www.uma.pt/jesussousa/CE/7PorouComobjectivos.pdf), deste modo:
«[...] conjunto de princípios metodológicos mais ou menos precisos e de técnicas pedagógicas mais ou menos rígidas, inspirados em trabalhos de pedagogos norte-americanos dos anos 50 (Tyler e Bloom) e que conheceram posteriores desenvolvimentos quer nos Estados Unidos, quer na Europa, de entre os quais se referem, como mais conhecidos entre nós, os trabalhos de Mager, Vandevelde, Krathwohl e Landsheere.»
Nos anos 90, no contexto da discussão do insucesso escolar, o pensamento de investigadores em ciências humanas, como Philippe Perrenoud, encontrou eco nas políticas educativas e na elaboração de programas escolares. Ganhou assim relevo o termo competência, definido por Perrenoud do seguinte modo (artigo completo nas páginas da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular):
«Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar com pertinência e efi...