Pergunta:
Parece-me estranha, na frase apresentada pelo consulente Nuno Pinho Melo em 5/2/2009, a coocorrência das conjunções e e todavia, embora admitida pelos distintos consultores Carlos Rocha e Rui Gouveia. A par da evidente redundância, pois ambas têm valor adversativo, ainda há o empobrecimento do estilo e da concisão.
«O homem corria, mas era lento» ou «O homem corria, e era lento» ou «O homem corria, todavia era lento». Mais simples e mais elegante.
Resposta:
Do ponto de vista estilístico, talvez a frase ganhasse com as reformulações propostas pelo consulente. Contudo, é possível associar à conjunção coordenativa copulativa ou aditiva conjunções, advérbios e locuções conjuncionais ou adverbiais que, além de ligarem orações, correspondem também a conectores intertextuais:
«O homem corria e, no entanto/todavia/contudo, era lento.»
«O homem corria e, mesmo assim/apesar disso, era lento.»
«(Por um lado) o homem corria e, por outro (lado), era lento.»
E. Bechara (Moderna Portuguesa Gramática Portuguesa, pág. 322/323) considera que este tipo de unidades tem natureza adverbial e mostra que, além de não terem uma posição rígida na oração, são compatíveis com conjunções coordenativas como nem (exemplos da pág. 323):
(1) a) «Eles não chegaram nem todavia deram certeza da presença.»1
b) «Eles não chegaram nem deram, todavia, certeza da presença.»
c) «Eles não chegaram nem deram certeza da presença, todavia.»
Se as coordenadas em (1) se tornarem afirmativas, obtemos exemplos que legitimam a frase «O homem corria e, todavia, era lento»:
(2) a) «Eles não chegaram e, todavia, deram certeza da presença.»2
b) «Eles não chegaram e deram, todavia, certeza da presença.»
c) «Eles não chegaram e deram certeza da presença, todavia.»
1 No Dicionário Houaiss, todavia é o mesmo que «mas, contudo, porém, no entanto, entretanto». Assinale-se, contudo, que a