Pergunta:
Uma antiga professora minha, que tropeçava em alguns estrangeirismos quando ia escrevê-los, sempre nos dizia que era permitido a qualquer falante de português aportuguesar palavras estrangeiras. De fato há uma regra que permita isso explicitamente? Além disso, aproveito para perguntar algo que pode ser um tanto ou quanto profético, mas ainda assim acho útil: por que anglicismos mais recentes, como "download", "delivery" ou "marketing", não foram ainda aportuguesados ("daunloude", "delíveri" e "márquetim"), enquanto, no passado, anglicismos como "pênalti" e "revólver" foram adaptados poucas décadas depois de seu primeiro emprego?
Resposta:
Não há regras explícitas para o aportuguesamento de palavras estrangeiras. Existe é um processo cujas fases correspondem a «um conjunto específico de fenómenos fonéticos, morfológicos, semânticos e gráficos» (M.ª Helena Mira Mateus e Fernanda Bacelar do Nascimento (org.), A Língua Portuguesa em Mudança, Lisboa, Editorial Caminho, 2005, pág. 38). Deve, portanto, falar-se de graus de integração dos estrangeirismos no léxico português (ibidem).
Além disso, é difícil generalizar e afirmar que o aportuguesamento de penalty e revolver como pênalti (penálti ou grande penalidade em Portugal)1 e revólver foi rápido em comparação com o que se passa com download, delivery e marketing: em primeiro lugar, seria preciso acompanhar o processo de integração de cada anglicismo para depois passar a comparações, em segundo lugar, pênalti e revólver são anglicismos bastante mais antigos na linguagem corrente e é natural que a sua integração no léxico português seja maior do que a de download, delivery e marketing. Reconheça-se, contudo, que a maior exposição dos falantes de português às variedades do inglês pode traduzir-se contemporaneamente no aportuguesamento mais lento de tais vocábulos.
1 Ver dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.