Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Saudações!

Minha dúvida diz respeito ao topônimo 'Colossos'. Qual/Quais a(s) forma(s) correta(s) na língua portuguesa? Nunca li ou ouvi sobre a cidade 'Colossas', assim como o deu por termo correto o senhor Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca, nesta resposta.

Muito obrigado.

Resposta:

O Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, indica realmente Colossas, como forma legítima do topónimo, sem registar "Colossos". O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, faz o mesmo. Na lexicografia brasileira, é também Colossas que se escreve quando, por exemplo, o Dicionário Houaiss define colossense e colossino como «relativo a Colossas, cidade da antiga Frígia (Ásia Menor) ou seu natural ou habitante». Finalmente, na Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura escreve-se Colossas:

«Cid. do Sudoeste da Frígia, que ficava a 200 km a E de Éfeso e era vizinha de Laodiceia e Hierápole. Situada nas margens do rio Lico, afluente do Meandro, era atravessada pela grande estrada que ligava Éfeso ao vale do Eufrates. Decaída, ao tempo de S. Paulo, do antigo esplendor, não passava de simples vila, da qual só restam hoje modestas ruínas. Como as referidas cidades vizinhas, deve ter sido evangelizada pelo colossense Epafras, na altura da grande missão de Éfeso (Act. 19,9-10). A cristandade era de maioria gentílica, mas com um substancial número de judeus. Os bispos de C. são mencionados até ao séc. VIII.

Observe-se, porém, que a citada enciclopédia usa a forma Colossos no artigo dedicado à Epístola aos Colossenses. E muitas edições da Bíblia em português apresentam esta forma. No entanto, considero que Colossas é mais correcto, convidando o consulente a seguir o seguinte raciocínio:

1. Em grego, o nome da cidade em questão é Κολoσσαι (= Kolossai), que passa para latim como Colossae (ver Alexander Souter,

Pergunta:

A propósito da vossa recente abertura sobre o português em Badajoz e Cáceres, surgiu-me a seguinte dúvida:

Deve o nome da província Extremadura ser aportuguesado para Estremadura, à semelhança do que é feito com Galicia e Andalucía? Ou deve ser mantido o original em castelhano?

Obrigado desde já pela atenção.

Resposta:

A forma portuguesa correcta é Estremadura, em referência quer à província portuguesa quer à região autonómica espanhola. É assim que o topónimo vem grafado no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, e no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado.

Pergunta:

Santa- é um prefixo que termina em vogal.

Rosense inicia com r-. Como se escreve? "Santa-rosense", ou "santarrosense"? É o caso também de mato + grossense e outros.

Resposta:

Se consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verá que os naturais e residentes das várias localidades brasileiras chamadas Santa Rosa se chamam santa-rosenses. E o natural ou residente em Mato Grosso é mato-grossense. Todos estes gentílicos mantêm o hífen no novo Acordo Ortográfico, como se pode concluir pela inclusão de exemplos de gentílicos no primeiro parágrafo da Base XV:

«Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: [...] mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano [...]

Pergunta:

Como traduzir: «Copyright © 2008 nome 1, Copyright 2009 nome 2 – All rights reserved»?

Agradeço, antecipadamente, a vossa atenção dispensada.

Resposta:

Embora noutros contextos se possa traduzir por «direitos de autor» ou «direitos autorais», o termo copyright não costuma ser traduzido quando se encontra nas páginas interiores de uma publicação. Já «all rights reserved» é equivalente a «reservados todos os direitos» (é também possível a variante «todos os direitos reservados» com a mesma ordem de palavras que a expressão inglesa).

Sobre copyright e o seu aportuguesamento copirraite, proposto pela lexicografia brasileira, escreve Agenor Soares dos Santos, no Dicionário de Anglicismos (São Paulo,Editora Campus/Elsever, 2006):

«COPIRRAITE s. (séc. 20) — COPYRIGHT. Apesar de determinado desde 1943, o aport[uguesamento] não pegou; basta ver qualquer livro publicado no Br[asil] com essa inscrição. [...]»

Pergunta:

No site do Observatório Nacional pode ler-se: «Em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, à 1:00 hora da manhã adiantamos o relógio de 60 minutos, passando para as 2:00 horas da manhã.»

Porquê o «adiantamos (...) de 60 minutos» e não «adiantamos 60 minutos»? Ambas as formas estão correctas?

Resposta:

O verbo adiantar, quando significa «fazer avançar o tempo marcado num relógio», usa-se com um complemento directo e um complemento oblíquo, opcionalmente introduzido pela preposição em (ver Celso Pedro Luft, Dicionário Prático de Regência Verbal): «adiantaram os relógios (em) sessenta minutos.» A preposição de não constitui, portanto, a regência correcta.