Pergunta:
Após leitura da seguinte resposta, tive dúvidas quanto à ocorrência ou não da crase nesse caso. Antes, estava certo de que não ela não ocorria.
Ora, diz que a língua não se rege apenas por princípios lógicos, mas, basicamente por eles, havemos de convir. Por isso, acho mesmo normal que se questione a utilização de "à vela", e não me dou por satisfeito com a resposta de que foge à lógica.
Tenha-se também em conta que o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, versão eletrônica, acolhe no verbete vela a locução «a vela», como a seguir transcrevo:
«a v[ela]
movido pela força do vento
Ex.: embarcação a v[ela]»
Quer dizer então que ainda não há uma estabilidade de uma ou outra forma.
Caso tenha mais informações que justifiquem o emprego de «à vela» em detrimento de «a vela», que acho melhor, peço-lhe que me enriqueça com elas.
Muito obrigado.
Resposta:
A resposta reporta-se ao português europeu, aspecto que está agora aí devidamente assinalado (ver Textos Relacionados). Para incluir o português Brasil no comentário à expressão em causa, terá de se reconhecer que existem duas variantes, «à vela» e «a vela», cada qual com sua distribuição geográfica: a primeira assim registada em dicionários publicados em Portugal (ver dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, s. v. barco); a segunda é forma dicionarizada no Brasil (cf. Dicionário Houaiss, s. v. vela).
O uso tradicional e hoje corrente em Portugal é, pois, «à vela», com contracção da preposição a com o artigo a, ou seja, com crase. É de sublinhar que a pronúncia em português europeu dessa contracção é com «á aberto» e não com «á fechado», como é o caso de «a vela». Por outras palavras, a diferença entre «à vela» e «a vela» é claramente audível, e, quanto a mim, seria algo estranho, não sendo ininteligível, que algum falante de português europeu proferisse «barco a vela», procurando harmonizar a expressão com «barco a motor» ou «barco a remos», sem contracção. Pelo contrário, no Brasil, pelo menos, pelo que se verifica no Dicionário Houaiss, não é assim: a expressão segue o modelo de «barco a motor» e dispensa o artigo (isto é, não tem contracção ou crase).
Porquê a falta de "lógica", ou consistência semântica, no caso português? Penso que é de considerar uma outra "lógica", a da história das unidades e estruturas linguísticas, na qual podem intervir factores que sugerem ao falante formas alternativas (por exemplo, a analogia) de estabelecer relações...