Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o plural de Sebastião e, se puder ser, qual a sua origem?

Obrigado pela atenção.

Resposta:

Vou começar por abordar a origem de Sebastião, porque assim poderei tratar da questão do plural do nome com mais clareza.

Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), Sebastião aparece em português mediante o latim Sebastiānu-, latinização do grego Sebastianós, derivado de sebastós, «augusto, digno de veneração». Este nome teve as variantes Sauaschãão e Sebachão na Idade Média. Também foi e é usado como apelido, e dele também derivou um patronímico medieval: Sauaschãaez, Sauhaschaes e Sauaschaiz.

Se o étimo latino de Sebastião é Sebastianu-, então, a haver plural, obteríamos a seguinte correspondência: lat. Sebastianos > port. Sebastiãos. Mas se João permite o plural Joões, apesar da etimologia, que faria supor Joães (João < Johanne, Joães < Johannes), eu diria que que Sebastiões é não só forma possível, mas até preferencial. Por outras palavras, parece que os nomes próprios acabados em -ão têm tendência a formar um plural não etimológico em -ões.

Pergunta:

A palavra instituição acentua-se em que sílaba?

Resposta:

A palavra instituição tem acento tónico na última sílaba. Na escrita, um substantivo ou um adjectivo terminados em -ão terão sempre acento tónico na última sílaba (são palavras agudas) se não houver outro acento (agudo ou circunflexo) na palavra: redacção; constituição; capitão; bretão. Se houver acento agudo ou circunflexo numa palavra terminada em -ão, é porque a sílaba que tem por núcleo esse ditongo nasal é átona: órgão e zângão.

Pergunta:

Por gentileza, gostaria de saber a pronúncia correta do verbo medir quando na 1.ª pessoa do singular no presente do indicativo. Há uma dúvida se a palavra meço tem o e pronunciado como "é" ou "ê". Gostaria muitíssimo de saná-la.

Agradeço o auxílio e aproveito para parabenizá-los pela excelente ajuda de Ciberdúvidas!

Grato.

Resposta:

Com e aberto ("é"). Tanto no português europeu como no português brasileiro, este verbo da 3.ª conjugação tem vogal aberta na sílaba do radical verbal que receber o acento tónico (formas rizotónicas), exactamente como pedir (por exemplo, peço, pedes, pede, pedem no presente do indicativo). Por conseguinte, é com e aberto que dirá, no presente do indicativo, meço, medes, mede, medem1.

1 Diz Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Lucerna Editora, 2002, pág. 241):

«Os verbos medir, pedir, despedir, impedir e derivados têm e aberto nas formas rizotónicas, isto é, nas três pessoas do singular e 3.ª do plural do presente do indicativo e subjuntivo, e no imperativo afirmativo, exceto, neste, na 2.ª pessoa do plural:

medir — pres. ind.: meço, medes, mede, medimos, medis, medem

           pres. subj.: meça, meças, meça, etc.

          imper. afirm.: mede, meça, meçamos, medi, meçam.»

Pergunta:

Eu queria saber como ocorrem mudanças fônicas determinadas por pressões paradigmáticas.

Resposta:

A noção de pressão paradigmática pertence à teoria funcionalista do linguista francês André Martinet. A este respeito, no Dicionário de Linguística, de Jean Dubois et al. (São Paulo, Cultrix), lê-se o seguinte:

«Em fonologia geral, A. Martinet avalia o rendimento funcional (função linguística) das diferenças fônicas: partindo da distinção importante entre fatos fonéticos e fatos fonológicos, ele opõe as necessidades da comunicação (exigência de um número máximo de unidades que sejam as mais diferentes possív[el]) e a tendência ao menor esforço (exigência de um número de unidades [o] menos diferentes possív[el]). A tendência a harmonizar essas duas exigências leva à economia na língua ou à melhora do rendimento funcional. Cada unidade do enunciado é submetida a duas pressões contrárias: uma pressão (sintagmática) na cadeia falada, exercida pelas unidades vizinhas, e uma pressão (paradigmática) no sistema, exercida pelas unidades que poderiam figurar no mesmo lugar. A primeira pressão é assimiladora; a segunda, dissimiladora.»

Sendo assim, pode-se considerar que a emergência do sistema de sete vogais do latim vulgar falado nas antigas províncias romanas da Gália e da Hispânia configura uma mudança fónica devida a pressão paradigmática, embora sejam naturalmente de ter em conta pressões sintagmáticas sobre a ocorrência das unidades vocálicas em contexto, entre as quais a relação entre sílabas acentuadas e não acentuadas na palavra ou no sintagma. J. Mattoso Câmara Jr. descreve tal processo do seguinte modo (História e Estrutura da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Padrão, 1985, págs. 40/41):

«No latim clássico, a quantidade tinha função distintiva: na flexão nominal e verbal distinguiam-se, por exemplo, as desinências -

Pergunta:

Alguns atos regulamentares (e até mesmo leis) no Brasil contêm, entre a epígrafe e o primeiro artigo, os fundamentos que levaram à sua edição. Tais fundamentos são constituídos por parágrafos e cada um deles se inicia pelo gerúndio do verbo considerar. Alguns autores denominam essa fundamentação de “consideranda”, porém, não encontrei em dicionários este termo. Minhas dúvidas a respeito são:

a) a expressão está correta?

b) se estiver, ela se refere a cada um dos parágrafos, ou ao conjunto?

c) alguns autores a utilizam como substantivo masculino plural. Está correto? (exemplo: no documento , a Seção 1 da Emenda).

Parabéns e muito obrigado por esse trabalho que há tempos vem sendo realizado em prol de nossa língua e do qual sempre me valho.

Resposta:

A forma dicionarizada é considerando, cujo plural é considerandos, como se pode confirmar no Dicionário Houaiss (ver também Dicionário de Português Michaelis):

«1 cada uma das reflexões, observações, razões ou motivos que se enumeram em parágrafos, como introdução ou prólogo a um documento (leis, decretos, sentenças, conclusões, propostas etc.), cada um deles principiando com a palavra considerando ou atendendo Ex.: ainda estão nos c[considerandos].

2 (1881) razão, motivo; argumento (mais us[ado] no pl[ural]) Ex.: sua idade, seu peso e outros c. levaram-no a desistir de correr.»