Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o adjetivo relativo à ilha de Príncipe, de São Tomé e Príncipe, o qual deve ser também, presumo, o substantivo que designa os seus naturais ou habitantes? Quanto ao adjetivo e substantivo da ilha de São Tomé e de seus habitantes, diferiria de "santomense", "são-tomense", "sã-tomense", os quais designam o país como um todo e seus habitantes como um todo?

Para lá de agradecido!

Resposta:

Designa-se principense o crioulo da ilha do Príncipe, pelo menos, pelo que se pode apurar num artigo da Wikipédia. Por conseguinte, parece-me que o gentílico da mesma ilha é também principense, embora não tenha confirmação de fontes impressas. Quanto ao gentílico quer do país que se chama São Tomé e Príncipe quer da ilha de São Tomé, verifica-se que Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, regista são-tomense e sã-tomense.1

1 Agradeço ao Dr. Peixoto da Fonseca a informação prestada. Em dicionários mais recentes, como o da Academia das Ciências e o Houaiss, acolhe-se também a forma santomense. O mesmo faz a Academia Brasileira de Letras no seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portugu...

Pergunta:

No livro de Vitorino Nemésio Mau Tempo no Canal, surge a expressão: «uma verdadeira nuvem de areúcos arrancados ao atalho que seguiam, de mistura com folhas enroladas e ásperas do leite das figueiras.»

O que são "areúcos"?

Resposta:

A forma "areúco" só pode ser gralha. O que encontro em muitas edições do romance Mau Tempo no Canal é areúsco, palavra que significa «terra de consistência arenosa; pó grado», conforme vem registada num estudo de Maria Alice Borba Lopes Dias, Ilha Terceira: Estudo da Linguagem e Etnografia (Secretaria Regional de Educação e Cultura/Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 1982, pág. 428).

Pergunta:

De onde vem a expressão «pêlo nas ventas»?

Resposta:

Por estranho que pareça, esta conhecidíssima expressão, pelo menos em português europeu, não se encontra explicada etimologicamente em nenhum dos dicionários consultados. Note, no entanto, que a palavra pêlo aparece também conotada negativamente numa outra expressão, «ter pêlos no coração». A imagem associada à palavra pêlo sugere, portanto, falta de sensibilidade, mau feitio ou mau génio.

Pergunta:

Agradeço que me informem de quais são as formas correctas:

"Jogo treino"?

"Jogo-treino"?

"Jogos treino"?

Resposta:

A respeito da hifenização, a forma recomendável é jogo-treino, porque a associação de dois substantivos apresenta geralmente um hífen (sofá-cama, médico-cirurgião; ver Textos anteriores). Em relação ao plural, existem duas opções, decorrentes da função desempenhada por treino na unidade lexical composta: a) jogos-treino, se o segundo substantivo, treino, especifica o primeiro, jogo, definindo um tipo de jogo; jogos-treinos, se os dois constituintes estão coordenados, referindo uma actividade que é simultaneamente um jogo e um treino.

Pergunta:

Por favor, o que é um encadeamento vocabular? Li alguns artigos no Ciberdúvidas, mas ainda não está claro para mim.

Obrigada.

Lúcia Vieira

Resposta:

Encadeamento vocabular é uma associação ocasional de palavras, muito comum, por exemplo, quando se refere uma relação entre duas ou mais entidades: «a cimeira Estados Unidos-Rússia»; «o percurso Rio de Janeiro-São Paulo»; «o jogo Inglaterra-França» (no contexto futebolístico, também se encontra o sinal ×, especialmente na imprensa brasileira: «jogo Fluminense × Flamengo»).

A expressão encadeamento vocabular encontra-se no Acordo Ortográfico de 1945 (AO 1945) e no de 1990 (AO 1990), nos seguintes contextos (sublinhado meu):

AO 1945:

«32 É o hífen que se emprega, e não o travessão, para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos compostos, mas encadeamentos vocabulares: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade; a estrada Rio de Janeiro-Petrópolis; o desafio de xadrez Inglaterra-França; o percurso Lisboa-Coimbra-Porto

AO 1990

«BASE XV:

BASE XV: DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES

[...] 7 Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-N...