Pergunta:
Eu gostaria de saber se há algum respaldo da gramática prescritiva para a combinação de duas conjunções (e + mas).
Encontrei isso num verso de Gonçalves Dias: «Nem tão alta cortesia / Vi eu jamais praticada / Entre os Tupis,– e mas foram / Senhores em gentileza.» (I-Juca-Pirama, VII).
Também encontrei outros exemplos:
1. «A ameaça rugiu-lhe no coração e mas a cólera cedeu à angústia e ele sentiu na face alguma cousa semelhante a uma lágrima.» (Helena – Machado de Assis);
2. «Ele aqui abriu a carteira com ares de ricaço, tirou umas notas e mas quis meter nas mãos, dizendo […]» (Paulo – Bruno Seabra).
Seria uma forma mais rara de dizer «…e, no entanto, […]»?
Obrigado.
Resposta:
Não é possível «e mas».
Na verdade, um dos exemplos em questão – o retirado de Helena, de Machado de Assis – contém um erro gráfico, que resulta da troca de ponto e vírgula por e. O que se lê realmente nas frases citadas na consulta é o seguinte:
(1) «A ameaça rugiu-lhe no coração; mas a cólera cedeu à angústia [...].»
Noutro exemplo, o que se lê é uma sequência de e e da contração pronominal mas, resultado do encontro dos pronomes me e as:
«Ele aqui abriu a carteira com ares de ricaço, tirou umas notas e mas quis meter nas mãos» = «... e me quis meter essas notas nas mãos».
Já a abonação que dão os versos de Gonçalves Dias se esclarece pior e pode até parecer apoiar o uso efetivo de «e mas». Não foi aqui possível levar mais longe a justificação de sequência, sobre a qual não se encontraram comentários nas fontes disponíveis.
Cf. Virgula depois do “mas”?