Os encontros vocálicos io e ie finais designam-se nessas palavras por sequências postónicas. As normas em vigor obrigam que a sílaba anterior (tónica) tenha um acento gráfico. Este tema já foi várias vezes tratado em Ciberdúvidas, mas a afirmação que diz ter encontrado em gramáticas merece-nos uma resposta particular. Começo por, mais uma vez, dizer que na língua é necessário ser prudente nas afirmações gerais. No ponto de vista daqueles que negam a possibilidade de estas sequências se poderem pronunciar com hiato, elas são sempre ditongos crescentes (aliás, designação dada nas normas). Assim, as palavras são graves e designam-se por falsas esdrúxulas (o acento é criticável porque não se enquadra na lógica das esdrúxulas [proparoxítonas]). Há no entanto também o ponto de vista daqueles que negam a existência destes ditongos crescentes, dado não serem estáveis, como prova o facto de as normas permitirem a sua separação na divisão silábica. Assim, as palavras são mesmo esdrúxulas (o acento é legítimo). A análise correcta (tenho tentação de dizer que está na procura do meio-termo aristotélico) deve ser feita procurando encontrar os motivos destes pontos de vista antagónicos (prefiro dizer que está na aceitação, em princípio, de que há alguma razão nos dois lados, atitude normalmente negada pelos extremistas). Modernamente, aceita-se que estes encontros possam ser pronunciados como ditongos crescentes (numa só emissão de voz, ex.: [nju], se a fala for rápida); ou pronunciadas com hiato (duas vogais, duas sílabas, ex.: [ni-u], se a fala for lenta). Então, aceitando-se esta interpretação, o acento não significa que a palavra seja sempre esdrúxula, mas que o pode ser em fala lenta; ... e tem de se encarar o acento obrigatório com tolerância de sage. Ao seu dispor,