Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber a origem da palavra Laceiras, que é o nome da minha aldeia, em Carregal do Sal.

Obrigado.

Resposta:

Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), os topónimos Laceira e Laceiras têm origem no substantivo feminino laceira, «lodeiro, nateiro, lamaçal». De acordo com a mesma fonte, é nome de lugar frequente nas regiões de Lamego, Tondela, Vidigueira, Vila Real, bem como na Galiza (províncias de Pontevedra e Ourense).

Pergunta:

Como se designa o natural ou o habitante de Istambul, antiga Constantinopla, na Turquia europeia?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe forma dicionarizada. Deste modo, a expressão recomendada é «habitante de Istambul» ou «natural de Istambul», conforme os casos¹. No entanto, é possível formar istambulense² e istambulês, à semelhança de bordalense/bordalês (Bordéus, França) e burgalense/burgalês (Burgos, Espanha) (ver Dicionário Houaiss). Acresce que na Internet ocorrem as referidas formas.

Numa perspectiva mais erudita, também se poderá usar constantinopolitano, embora este uso pressuponha um dos antigos nome da cidade, Constantinopla ³ (ver Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, Nos Garimpos da Linguagem, Rio de Janeiro, Livraria S. José. 4.ª edição). 

¹ Como se lembra no Dicionário de Gentílicos e Topónimos do Portal da Língua Portuguesa,  sempre que não e...

Pergunta:

O gentílico relativo a Lugano, cidade suíça de cultura italiana, seria qual?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe forma dicionarizada. Contudo, é possível formar luganense ou luganês, tendo em conta o italiano luganese1, cujo sufixo -ese é cognato2 dos portugueses -ês e -ense.

1 Por exemplo, em designações como Portale Luganese e «Luganese segretariato e amministrazione‎». Agradeço a Ana Martins a informação sobre a forma italiana.

2 Cognato «diz-se de ou palavra que vem de uma mesma raiz que outra(s)» (Dicionário Houaiss); neste caso, a origem comum é latina, -ensis, donde evoluíram os referidos sufixos em italiano e português (cf. idem, s. v. -ês e -ense).

Pergunta:

Quais são os gentílicos de Meca e Medina, cidades sagradas do islamismo situadas na Arábia Saudita? Se existem tais gentílicos, eles funcionariam como adjetivos e substantivos?

Muito obrigado.

Resposta:

Segundo Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes (Nos Garimpos da Linguagem, Rio de Janeiro, Livraria S. José, 4.ª edição), os gentílicos respeitantes a Meca são: mecano, mequense. Quanto a Medina, regista-se o gentílico medinense, que, segundo o Dicionário Houaiss, se aplica ao natural ou residente de Medina (Minas Gerais), mas que pode também designar o natural ou o habitante de Medina, na Arábia Saudita; Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, também acolhe medinês, como adjectivo e substantivo. Todas as formas aqui mencionadas se podem usar quer como substantivos quer como adjectivos.

Pergunta:

Fui questionada por um aluno quanto ao grau aumentativo do nome leite, no sentido de confirmar se o mesmo era leitão (leitinho, leite, leitão), ou se existe outra palavra que traduza o grau aumentativo da palavra leite. Qual a resposta mais correcta?

Resposta:

A palavra leitão não é um aumentativo de leite, nem ocorre como designação de alguma forma desse produto, como se verifica por duas definições do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa: «porco novo, ainda em fase de lactação; bácoro enquanto mama»; «carne comestível desse animal, preparada de modo particular». Há, no entanto, uma relação etimológica que é ainda hoje analisável, porque o vocábulo em questão inclui o radical leit-, que surge em leite (ver Dicionário Houaiss).

Note-se que não é impossível empregar pontualmente leitão como aumentativo de leite: a palavra tem a configuração de um aumentativo regular, à semelhança de dedão, aumentativo de dedo. Mas trata-se de um uso jocoso ou infantil, desfavorecido pela confusão decorrente da homonímia com leitão, «porco pequeno». Sendo assim, e não conhecendo eu forma alternativa, considero que o substantivo leite não tem aumentativo.