Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

«Duas políticas que têm de se coneccionar...»

Escreve-se "coneccionar"?

Obrigada.

Resposta:

A forma dicionarizada e mais corrente do verbo relacionado com conexão é conectar. A existir um verbo resultante da conversão de conexão, esse será, não "coneccionar", mas, sim, conexionar, forma que encontro mencionada no artigo correspondente à entrada nex- do Dicionário Houaiss.

Pergunta:

Depois de ter lido as vossas respostas sobre o som do x final das palavras Félix/fénix, gostava de saber qual é o som do x no antropónimo Max.

Muitos parabéns pelo vosso trabalho em prol da língua portuguesa.

Resposta:

O antropónimo Max pronuncia-se "maks" (transcrição fonética: [maks]). É provável que esta pronúncia se deva ao facto de Max ter origem estrangeira, como sugere José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa: «Talvez do fr[ancês] Max ou mesmo do ing[ês] ou do alemão Max (origem daquele), hipocorístico de Maximilian

Pergunta:

Qual o gentílico de Calecute, Índia? Aproveitando o ensejo, qual o gentílico da capital desse país, Nova Déli?

Muito obrigado.

Resposta:

Os topónimos em apreço não têm gentílicos consagrados em português. Para Calecut1, podem criar-se os termos calecutiano ou calecutense, embora outras formas se afigurem aceitáveis, desde que conformes aos padrões fonológicos e morfológicos do português. Em relação a Nova Deli, tendo em conta que o gentílico de Deli2 é deliense (Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, Nos Garimpos da Linguagem, Livraria São José, 4.ª edição, s. v. Deli), sugiro a forma nova-deliense (cf. Nova Iorque: nova-iorquino; ver Dicionário Houaiss e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora)

1 Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa, recomenda a forma «Calecut, com a variante Calicut»; no Tratado de Ortografia Portuguesa (Coimbra, Atlântida Editora, 1947, pág. 104), assinala Calecu e Calicu como grafias arcaicas. No entanto, I. Xavier Fernandes (Topónimos e Gentílicos, 1.º vol., Porto, Editora Educação Nacional 1941, pág. 53) fixa Calecute como forma portuguesa, classificando Calecut, Calicut, Calecu e Calicu como «formas estrangeiras ou mal aportuguesadas». O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado em 2009 pela Porto Editora, regista só Calecute.

2 Só encontro registo lexicográfico de Deli, sem acento gráfico. Para Rebelo Gonçalves (Vocabulário da Língua Portuguesa), é «inexacta a forma Delhi».

Pergunta:

Gostaria de saber qual destas formas é a correcta e porquê:

1. "re-eleito", ou "reeleito";

2. "arria-se a bandeira", ou "arreia-se a bandeira"?

Obrigada.

Resposta:

1. Escreve-se reeleger, no infinitivo (ver Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e no Vocabulário Ortográfico do Português, do Instituto de Linguística Teórica  e Computacional – ILTEC); logo, o particípio passado é reeleito.

2. Diz-se «arreia-se a bandeira» no português europeu, mas «arria-se a bandeira» no português brasileiro.

Existe arrear, «pôr arreios», e arriar, «fazer descer». Obviamente que o que se pretende dizer é «arriar a bandeira», ou seja, «fazer descer a bandeira». Ora bem, acontece que há diferenças entre o português europeu (PE) e o português do Brasil (PB) em relação às conjugações destes verbos. Em PE, os dois verbos têm as mesmas formas de primeira, segunda e terceira pessoas do singular, bem como de terceira do plural no presente indicativo (ver Dicionário de Verbos Portugueses, na Infopédia); em PB, não é assim (ver Dicionário Houaiss):

PE: arreio, arreias, arreia, arreiam (...

Pergunta:

Qual o gentílico de Sacramento, ex-colônia portuguesa, hoje situada no Uruguai?

"Correntino" seria mesmo o gentílico de Corrientes, província argentina?

E o gentílico de Entre-Rios, também província argentina?

Muito obrigado.

Resposta:

Não sei de fontes portuguesas ou brasileiras que fixem as formas dos gentílicos correspondentes aos nomes próprios Sacramento (Uruguai) e Corrientes (Argentina). Sendo assim, sugiro o aportuguesamento das formas espanholas, cuja estrutura morfológica se adapta sem dificuldade: coloniense, para o natural ou habitante de Sacramento, e correntino, para o natural ou habitante da província argentina de Corrientes (ver dicionário da Real Academia Espanhola).

Quanto ao gentílico de Entre Ríos (Argentina), a forma usada em espanhol é entrerriano (idem), que o Dicionário Houaiss também acolhe como termo «relativo a Entre Ríos (Argentina) ou o que é seu natural ou habitante». Entrerriense é o gentílico de Entre-Rios, na Bahia (ver idem e Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, Nos Garimpos da Linguagem, Livraria São José, 4.ª edição).

N.E. – O topónimo Uruguai – conforme registo do blogue