Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostava de saber qual o termo utilizado para designar a qualidade de quem está exaurido. Será o espontâneo termo "exaurição", que não encontro dicionarizado, legítimo? Obrigado.

Resposta:

Se consultar o Dicionário Houaiss, verá que «[o] ato ou efeito de exaurir» se designa por exaurição ou exaurimento.

Pergunta:

Qual seria porventura o gentílico de Cesareia Mazaca, capital da antiga região da Capadócia, na Anatólia?

O gentílico porventura apontado pelo Ciberdúvidas valeria também para a Cesareia Marítima e também para a Cesareia de Filipe? Funcionaria como adjetivo e substantivo?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe forma dicionarizada ou generalizada pelo uso para designar o natural ou o habitante de Cesareia Mazaca, na Capadócia (actual Turquia), que é hoje, em turco, Kayseri.1 Como existem várias cidades com o nome de Cesareia, é de presumir que as formas gentílicas aplicáveis a uma se apliquem às outras, incluindo a Cesareia Mazaca da Capadócia, a de Filipe ou a Marítima.

Assim, verifica-se que o Dicionário Houaiss regista cesariense com o significado de «relativo a ou habitante de Cesareia, importante cidade da antiga Palestina, construída por Herodes, o Grande, e destruída pelos turcos no sXIII». A forma cesariense é confirmada por Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), para designar os naturais e habitantes de Cesareia. Assinale-se que o referido lexicógrafo não rejeita a derivação com base na forma latina da cidade, Caesarēa, ou seja, cesareense.

1 Por exemplo, não encontro indicação nenhuma em Os Garimpos da Linguagem (Rio de Janeiro, Livraria S. José), cujos autores, Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, são pródigos em propor gentílicos para casos em que não existe termo consagrado.

Pergunta:

Qual é o gentílico de Roterdão, Holanda?

Resposta:

Encontro uma forma possível do gentílico em questão no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves: roterdamês. Isto não invalida uma forma alternativa, roterdamense.

 

CfA partir de agora, a Holanda deixa de se chamar Holanda

Pergunta:

Já pesquisei e encontrei abreviaturas para os endereços, no entanto, não encontrei para lote. Qual será a forma mais correcta: "lt", "lte", ou outra?

Obrigada.

Resposta:

Recomendo lt. como abreviatura de lote, na acepção de «parcela de terra destinada a construção de casa ou prédio ou a pequena exploração agrícola» (cf. Magnus Bergström e Neves Reis, Prontuário Ortográfico, Lisboa, Casa das Letras, 48.ª edição, 2007, pág. 97, e Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa).

Pergunta:

O plural de relatório-síntese é relatórios-síntese?

Resposta:

É um tanto difícil identificar, entre os plurais possíveis, relatórios-síntese e relatórios-sínteses, qual o mais correcto. Por um lado, parece-me que se trata de um composto criado pontualmente, a respeito do qual não se pode dizer que exista uso estável. Por outro, justificam-se duas interpretações  de relatório-síntese:

a) o plural relatórios-síntese pressupõe um tipo de relatório, sendo parafraseável por «relatório que é uma síntese» ou por «relatório que é sintético»;

b) a forma relatórios-sínteses pressupõe a coordenação de dois substantivos num composto designativo de um documento encarado simultaneamente como relatório e síntese.

Acontece que a diferença entre as duas realidades é mínima: um documento que é, ao mesmo tempo, um relatório e uma síntese acaba por ser uma exposição sintética. Por conseguinte, considero que, neste caso, por questões referenciais, ambos os plurais são aceitáveis. Recomendo também que, no mesmo texto, haja coerência quanto à forma de plural escolhida, sendo de evitar a mistura dos dois plurais.