Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é o gentílico de Roterdão, Holanda?

Resposta:

Encontro uma forma possível do gentílico em questão no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves: roterdamês. Isto não invalida uma forma alternativa, roterdamense.

 

CfA partir de agora, a Holanda deixa de se chamar Holanda

Pergunta:

Já pesquisei e encontrei abreviaturas para os endereços, no entanto, não encontrei para lote. Qual será a forma mais correcta: "lt", "lte", ou outra?

Obrigada.

Resposta:

Recomendo lt. como abreviatura de lote, na acepção de «parcela de terra destinada a construção de casa ou prédio ou a pequena exploração agrícola» (cf. Magnus Bergström e Neves Reis, Prontuário Ortográfico, Lisboa, Casa das Letras, 48.ª edição, 2007, pág. 97, e Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa).

Pergunta:

O plural de relatório-síntese é relatórios-síntese?

Resposta:

É um tanto difícil identificar, entre os plurais possíveis, relatórios-síntese e relatórios-sínteses, qual o mais correcto. Por um lado, parece-me que se trata de um composto criado pontualmente, a respeito do qual não se pode dizer que exista uso estável. Por outro, justificam-se duas interpretações  de relatório-síntese:

a) o plural relatórios-síntese pressupõe um tipo de relatório, sendo parafraseável por «relatório que é uma síntese» ou por «relatório que é sintético»;

b) a forma relatórios-sínteses pressupõe a coordenação de dois substantivos num composto designativo de um documento encarado simultaneamente como relatório e síntese.

Acontece que a diferença entre as duas realidades é mínima: um documento que é, ao mesmo tempo, um relatório e uma síntese acaba por ser uma exposição sintética. Por conseguinte, considero que, neste caso, por questões referenciais, ambos os plurais são aceitáveis. Recomendo também que, no mesmo texto, haja coerência quanto à forma de plural escolhida, sendo de evitar a mistura dos dois plurais.

Pergunta:

Na frase «Diz-me lá, Joana, viste o meu irmão?», qual a função sintáctica exercida por ?

Resposta:

O advérbio ocorre na frase sem lhe ser atribuída função sintáctica especial, porque se trata de um marcador discursivo (ver Dicionário Terminológico). Na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, esta categoria recebia o nome de «expressão de realce». Também num quadro tradicional, Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 548) propõem o termo «palavra denotativa de realce».

Pergunta:

Coloquei há dias dúvidas sobre o uso da palavra gerontismo como sinónimo de «preconceito contra idosos». A resposta diz-me que o significado é outro e não indica como se pode, numa palavra, designá-lo. A palavra "etarismo" soa-me mais estranha. Pode mesmo ser usada? O étimo soa a italiano.

Obrigada.

Resposta:

Que a palavra soe a italiano, não admira porque o radical eta- provém do latim e tem um cognato italiano eta-, que ocorre em età, «idade». Como neologismo é, portanto, possível, mas não obtive dados nem lexicográficos nem provenientes de corpora que confirmem a sua generalização como termo que designa «preconceito contra a idade».

Cf. Quando o preconceito passa pelas nossas redes sociais